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Escritório de Advocacia - Dra. Clarice Beatriz da Costa Söhngen e Ingo Dietrich Söhngen

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domingo, 6 de julho de 2025

  A ONÇA!


A Amazônia! O pulmão do mundo, o berço de lendas, e, para a família Silva, o cenário de umas férias que prometiam ser inesquecíveis. E foram. Apenas não pelos motivos que eles imaginavam.

O hotel de selva era uma obra-prima de equilíbrio. Um "luxo rústico", como dizia o folheto, que se traduzia em camas com mais fios egípcios do que um sarcófago de faraó, e paredes de madeira que te lembravam, a cada instante, que do lado de fora havia um ecossistema inteiro indiferente à sua existência.

Naquela noite, a matriarca, Dona Margarida, capotou. Após um dia de trilha sob um sol inclemente, caça (fotográfica) a jacarés e transpiração em níveis industriais, ela se entregou ao sono com a determinação de um urso hibernando. No bangalô ao lado, seu marido, Roberto, e os dois filhos, o pré-adolescente Léo e o pequeno João, se acomodavam. A selva sussurrava lá fora, uma sinfonia de estalos, zumbidos e coaxares que parecia pulsar junto com o sangue.

Até que um novo instrumento, brutal e dissonante, rasgou a orquestra noturna.

"GRRRRROOOOONNNNC."

Era um som baixo, gutural, uma vibração que pareceu nascer no assoalho de madeira, subir pelas pernas da cama e alojar-se no fundo do estômago. Léo, que flutuava no limiar do sono, sentou-se na cama com a rigidez de uma estátua, os olhos como duas luas cheias no escuro. João, aninhado no braço do pai, se encolheu, transformando-se num tatu-bola humano.

"Pai... o que foi isso?", a voz de Léo era um fiapo, desprovida de toda a marra dos seus doze anos.

Roberto, sentindo o peso de mil gerações de pais protetores em seus ombros, engoliu em seco. O som lhe congelou o sangue e fez com que suas tripas executassem um nó cego ao redor do coração. Não havia engano. Era o som de uma onça. Uma onça-pintada, a rainha fantasma daquelas matas, e pelo visto, ela tinha escolhido a varanda deles para lamber as patas.

"Calma, filho", disse ele, mas a voz que saiu de sua garganta era a de um estranho, duas oitavas mais alta. "Deve ser só... um bicho do mato. Grande. Bem grande. Mas do mato."

João começou a choramingar, um som agudo que cortava o ar tenso. "A onça vai comer a gente, papai?"

"Claro que não!", bradou Roberto, inflando o peito numa tentativa de autoconvencimento. Ele era o alfa, o protetor, o Rambo da família Silva. "Nenhuma onça se atreveria a mexer com a gente! Eu estou aqui!"

Nesse exato instante, seu coração, que já batia forte, disparou numa bateria de escola de samba desgovernada. A pancada em suas costelas foi tão violenta que o ar lhe escapou dos pulmões num soluço audível, e um calafrio glacial percorreu sua espinha, fazendo-o tremer da cabeça aos pés. Droga, pensou ele, o Rambo está prestes a ter um colapso cardiovascular.

"GRRRRRRROOOOOOOOONNNNC-FUUUUUUU..."

O segundo rosnado foi mais longo, mais profundo. E terminou com um assobio sibilante, quase um... ronronar? Onças ronronam depois de encurralar a presa? Léo e João se fundiram ao pai, transformando os três numa única massa trêmula de pavor, suas unhas cravadas no braço dele. O tremor involuntário de Roberto tornou-se a menor de suas preocupações.

"Pai, faz alguma coisa!", implorou Léo, a voz rachada pelo pânico.

Com o cérebro em chamas, Roberto perscrutou o quarto em busca de uma arma. Seu arsenal: um abajur de bambu com uma cúpula frouxa e seu chinelo de dedo. Contra um predador de setenta quilos, não era exatamente o que se poderia chamar de dissuasão.

Foi então que o som mudou de novo, quebrando sua cadência primal.

"GRRRRROOOOONNNNC-fuuuu... nhéééé... GRONC!"

Aquele "nhéééé" no meio. Um suspiro, um engasgo... familiar. Havia um padrão ali, uma dissonância cognitiva. Roberto parou. Os filhos, sentindo a mudança na rigidez do pai, também pararam de tremer. Olharam-se no breu, uma centelha de reconhecimento lutando para acender em meio ao terror absoluto.

Lentamente, como um soldado desarmando uma bomba, Roberto deslizou para fora da cama, com os filhos a tiracolo. Pé ante pé, a família aterrorizada atravessou o quarto e encostou o ouvido na parede que os separava da "fera".

O som era inconfundível. Era o ronco de Dona Margarida. O mesmo ronco que já havia sido confundido com o motor de um caminhão F-4000 e, numa ocasião memorável durante uma viagem ao litoral, com um ritual de acasalamento de baleias-jubarte. Ali, na acústica primorosa da selva amazônica, seu ronco épico, potencializado pelo cansaço extremo, havia se transformado no esturro do mais temível dos predadores.

O alívio foi uma onda sísmica. E, como um tsunami, trouxe consigo uma crise de riso silenciosa e convulsiva. Roberto, ainda sentindo o coração ecoar pelo corpo, Léo, com o rosto manchado de lágrimas secas, e João, ainda agarrado à perna do pai, começaram a se sacudir, as bocas apertadas, os ombros tremendo, tentando abafar as gargalhadas para não acordar a "onça".

Na manhã seguinte, no café da manhã, Dona Margarida bocejou, espreguiçando-se com a satisfação de quem dormiu por um século.

"Nossa, que noite maravilhosa! Dormi como uma pedra. E vocês, queridos? Aproveitaram o silêncio da selva?"

Roberto e os filhos trocaram um olhar cúmplice por cima das tapiocas. Um sorriso que continha pavor, um coração quase parado e uma piada interna que duraria para sempre.

"Ah, mãe", disse Léo, com um brilho maroto nos olhos. "Foi... uma noite de fortes emoções. A selva é realmente um lugar selvagem."

Redação com auxílio da IA GPT 4.1 e base  fática do "autor". 

"A Onça!" por Ingo Dietrich Söhngen © 2025.

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0).

Disponível em: https://sohngen.blogspot.com/2025/07/a-onca-amazonia-o-pulmao-do-mundo-o.html

Para ver uma cópia desta licença, visite: https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.pt_BR

Licença CC BY-NC 4.0  Esta licença permite compartilhar (copiar e redistribuir) e adaptar (remixar, transformar e criar)"A Onça!"  em qualquer formato, desde que seja dado crédito adequado ao autor original com link para a fonte original e para a licença, indicando alterações feitas, sendo expressamente proibido o uso para fins comerciais. Não se pode adicionar restrições além das previstas, elementos em domínio público não são afetados, e o descumprimento cancela automaticamente os direitos concedidos, ressaltando-se que a licença pode não contemplar todas as permissões necessárias para certos usos.

 Para saber mais: 

1. https://www.youtube.com/watch?v=8MYLC_bZVU4 - som de onça pintada

2. https://www.google.com/search?sca_esv=9ae922c597ea1563&cs=0&sxsrf=AE3TifMN9GLtQFop1zQa3DC1JDelFsSgfw:1751759059666&q=Canto+da+on%C3%A7a+pintada+f%C3%AAmea&sa=X&ved=2ahUKEwjp2e2D86aOAxXMHLkGHefTFuYQpboHKAJ6BAgCEAQ&biw=1360&bih=633&dpr=1#fpstate=ive&vld=cid:6e683472,vid:3piVjbTtjG4,st:0