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Escritório de Advocacia - Dra. Clarice Beatriz da Costa Söhngen e Ingo Dietrich Söhngen

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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

 


 FDP -  O Código Secreto



O Daniel  chegou em Porto Alegre em 1932 com duas coisas: uma vontade imensa de se integrar e sem qualquer entendimento do português. Como todo recém-chegado, ele tinha curiosidade em  decifrar os códigos locais. Aquela necessidade de entender as regras não-escritas que separam as várias camadas sociais.

No cais, onde conseguiu emprego carregando sacos, ele logo percebeu que tinha jeito para a coisa. Enquanto os estivadores veteranos equilibravam o peso na cabeça com a elegância de equilibristas de circo, ele desenvolveu sua própria técnica: o método do ombro. Funcionava perfeitamente. Os colegas estranharam no começo, mas eficiência é eficiência. Recebeu uma certa admiração e respeito.  No final das contas, todo mundo chegava no mesmo lugar, carregando o mesmo peso.

Foi numa tarde dessas, quando o sol de verão transformava o cais numa sauna ao ar livre, que o convidaram para a roda de samba. Mais de dez pessoas em volta de uma mesinha improvisada, cavaquinho no meio, caipirinha gelada a iniciar a circulação. Como era o novato, o Daniel  ganhou o privilégio do primeiro gole.

Aí que mora o problema.

Achou que era como cerveja. Pegou o copo – um copão generoso, daqueles que você respeita – e mandou ver. Emborcou tudo de uma vez, tipo: "Saúde, pessoal!"

O silêncio que se seguiu foi daqueles que fazem você se perguntar se não parou o tempo. Dez pares de olhos arregalados olhando para ele como se tivesse acabado de cuspir no santo. Até que alguém, entre o espanto e a admiração, soltou:

— Mas que FDP!

Outros repetiram. "FDP aqui", "FDP ali". O Daniel, que não entendia patavina, interpretou aquilo como uma espécie de aprovação entusiasmada. Tipo um "Bravo!" ou "Muito bem!". Ficou todo orgulhoso, foi no balcão, comprou outra rodada para todo mundo e se despediu, convencido de que tinha passado no teste da turma.

Pronto. Estava criado o mal-entendido.

Alguns dias depois, caminhando pela Otávio Rocha, ele cruzou com um sujeito de voz alta, daqueles que falam como se tivessem engolido um alto-falante. O     Daniel, querendo ser simpático e demonstrar que já estava "por dentro" da cultura local, abriu o sorriso e disparou:

— FDP!

A reação do homem foi... digamos, inesperada. A cara de quem acaba de levar um tapa. O Daniel  ficou sem entender. Achou que talvez tivesse errado o tom. Tentou repetir com mais entusiasmo:

— FDP!

Piorou.

Horas depois chegou a intimação da delegacia. O Daniel, que não sabia ler português, levou o papel para um conhecido traduzir. O homem leu, releu, e demorou uns cinco minutos para conseguir explicar sem dar risada.

Na delegacia, a situação foi surreal. O inspetor, sério como uma sentença, perguntou através do tradutor improvisado:

— Por que o senhor chamou o cidadão de FDP?

A resposta do Daniel foi de uma inocência tocante:

— Mas é a palavra que eu mais escuto aqui no Brasil! Achei que fosse tipo "Prost" (saúde) ou ""Grüß Gott" (Salve Deus) !

O inspetor piscou. Duas vezes. O escrivão baixou a cabeça para disfarçar a risada. Do fundo da sala, o delegado soltou uma gargalhada.

O ofendido, quando soube da confusão, riu mais que todo mundo.

Resultado: caso arquivado, queixa retirada, e o Daniel recebeu uma lição valiosa sobre as sutilezas da comunicação intercultural. 

A história virou lenda na família. O próprio Daniel, anos depois, contava para os netos com aquele prazer de quem transformou uma quase-tragédia em comédia de costumes.

Porque no fundo, no fundo, foi isso que aconteceu: um imigrante tentando desesperadamente ser aceito, decifrando códigos errados e criando situações que só a vida real tem coragem de inventar.

E a lição que fica é simples: cuidado com as siglas. Elas podem significar qualquer coisa. Literalmente, qualquer coisa. Inclusive quando se fala de partidos políticos e políticos.

Redação com auxílio de IAs - redação final Claude Sonnet 4. Imagem criada pela IA FLUX 1.1 [pro] Ultra. Redator Ingo Dietrich Söhngen

 


"FDP -  O Código Secreto" por Ingo Dietrich Söhngen © 2025.

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0).

Disponível em: https://sohngen.blogspot.com/2025/09/o-codigo-secreto-o-daniel-em-porto.html

Para ver uma cópia desta licença, visite: https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.pt_BR

Licença CC BY-NC 4.0  Esta licença permite compartilhar (copiar e redistribuir) e adaptar (remixar, transformar e criar)"FDP -  O Código Secreto"    em qualquer formato, desde que seja dado crédito adequado ao autor original com link para a fonte original e para a licença, indicando alterações feitas, sendo expressamente proibido o uso para fins comerciais. Não se pode adicionar restrições além das previstas, elementos em domínio público não são afetados, e o descumprimento cancela automaticamente os direitos concedidos, ressaltando-se que a licença pode não contemplar todas as permissões necessárias para certos usos.


quarta-feira, 17 de setembro de 2025

 


O TURISMO no Brasil 



Era mais uma tarde a derreter o asfalto em Porto Alegre, anos 80, quando Lukas, um alemãozinho mais perdido que turista em feira de bugigangas, aguardava na parada com uma expressão de ponto de interrogação ambulante.

O busão finalmente apareceu – fazendo aquele barulho característico de geladeira velha tentando congelar ferro-velho – e Lukas subiu os degraus como quem escala as escadas da Igreja do Bom Fim, com a euforia de quem ganhou ingresso VIP para o Rock in Rio. Mal sabia ele que estava prestes a estrelar seu próprio episódio de "Casos de Família", versão internacional.

No comando da grana estava Pedro, o cobrador, um jovem de 20 anos que manuseava moedas com a delicadeza de quem desarma uma bomba: contava, recontava e empilhava como se cada centavo fosse decisivo para o equilíbrio do universo.

Excuse me, how much is the ticket? — soltou Lukas, com um inglês tirado diretamente dos créditos de "Miami Vice".

Pedro continuou sua contabilidade olímpica sem nem levantar o olhar. Para ele, aquilo era tão compreensível quanto as instruções de uma caixa de remédio em sânscrito.

Lukas, achando que o volume resolveria o problema, partiu para o alemão:

WIE VIEL KOSTET DIE FAHRKARTE? — bradou, escandindo cada sílaba, como se Pedro fosse surdo, e não um monoglota convicto.

A cara de Pedro transformou-se naquela expressão universal de quem morde cebola crua achando que era maçã. No fundão do ônibus, uma senhora cochichou para a amiga: "É russo?".

Desesperado e já considerando a telepatia, Lukas apelou para a linguagem que derruba fronteiras, acaba com guerras e até compra almas: o dinheiro. Sacou uma nota que, pela expressão de Pedro, era o valor máximo em circulação.

Pedro, operando como uma calculadora com bateria fraca, devolveu um troco misterioso e fez o gesto universal que significava: "Passa logo, tá segurando a fila."

Lukas sentou-se perto da janela, provavelmente pensando em como contaria suas aventuras ao pessoal da Bavária, enquanto Pedro, virando-se para o passageiro ao lado – um senhor que assistia a tudo com a atenção de quem acompanha final de campeonato – soltou a pérola filosófica do dia:

Mas que burro. Não sabe falar português.

Ali estava um turista estrangeiro sendo chamado de "burro" por alguém que considerava o português uma habilidade inata, tipo respirar.

Lukas, felizmente alheio à sua participação nesta sitcom tropical sem roteiro, sorria para todos como um labrador perdido no parque. Os brasileiros, craques em simpatia de exportação, retribuíam – todos, exceto Pedro, claro, que encarava línguas estrangeiras como uma ofensa pessoal.

Quando finalmente chegaram ao centro, Lukas desceu agradecendo em alemão (um som parecido com alguém tentando espirrar de boca cheia de pretzel) e seguiu seu caminho, sem fazer ideia de que acabara de participar do episódio piloto de "Turismo Selvagem: Sobrevivendo ao Transporte Público Brasileiro".

E assim seguiu a vida, mais um dia normal na terra onde a hospitalidade é opcional e o bilinguismo é considerado um luxo desnecessário. Mas quem precisa de tradutor quando se tem mímicas desesperadas e notas de dinheiro, não é mesmo?

Texto criado com auxílio de IAs Gemini 2.5 Pro e  Claude 3.7 Sonnet Think entre outras.

 "Redator" Ingo Dietrich Söhngen. 

Imagem criada a partir de prompt pela IA SD3.5 Large



sexta-feira, 12 de setembro de 2025

 Um Relato de Minha Chegada a Trumpetia e das Estranhas Afeições de Seu Governante


1

Após minha fuga das abstrações rarefeitas de Lupada(2), as correntes oceânicas me conduziram a uma costa dominada por uma colossal estátua feminina de semblante impassível e porte majestoso quando não voluptuoso, que parecia saudar eternamente os recém-chegados com uma tocha erguida em promessa de liberdade. A terra era chamada Trumpetia, e o ar, pesado com o aroma de fritura e carne grelhada -  outrora importada de Tropicália - vibrava com uma peculiar noção de liberdade que soava, a todo instante, como um slogan publicitário bem ensaiado.

O líder da nação era uma figura verdadeiramente singular, notável por seu tom de pele reminiscente de um pôr-do-sol alaranjado e um arranjo capilar que mais parecia uma criatura dourada e exótica adormecida sobre sua cabeça. Governava não de um trono tradicional, mas de uma cadeira ostensivamente dourada, relíquia de seus tempos como apresentador de um programa de competição onde se tornara célebre por dispensar candidatos com a frase seca e implacável: "You're fired!" Descobri, para meu crescente assombro, que ele havia desenvolvido tal afeição pela expressão que agora a aplicava com liberalidade na vida real, "demitindo" de sua própria nação as parcelas da população que ousavam contrariá-lo.

Fui conduzido à sua presença durante uma de suas performances diárias diante das câmeras de um canal de notícias. Naquela ocasião específica, defendia com fervor teatral um aliado político de um país ao sul, a ensolarada e efervescente Tropicália.

"É uma desgraça sem precedentes! Pior que aqueles episódios tediosos de Jornada nas Estrelas onde os personagens apenas debatem filosofia!", bradava o Presidente, gesticulando com tal energia que quase derrubou um copo de refrigerante de proporções desmesuradas. "Meu amigo — um sujeito nota dez, o melhor, o mais honesto que já conheci, e acreditem, conheço muitos homens honestos! — foi condenado por  juízes togados! E por qual crime, pergunto-vos? Simplesmente por ter, de maneira eminentemente patriótica, questionado o resultado de uma eleição que... bem, que ele perdeu! Meros detalhes! Ele desejava apenas agradar seu povo, o devotado povo do cercadinho que o venera! Eles o amam como amam cerveja gelada e sanduíche de mortadela! Inclusive, demonstraram seu apreço numa tarde de domingo, passeando pela capital e espalhando... flores."

A menção à iguaria popular me pareceu estranha, mas um assessor me segredou que se tornara símbolo de união entre os seguidores mais devotos do tal aliado. Quanto à questão das flores, permaneci igualmente intrigado, pois, pelos sussurros que captei nos corredores, de flores não se tratara naquela memorável tarde de domingo.

O Presidente então se voltou para um general cuja expressão impassível sugeria décadas de resignação profissional. "General, mobilizem os navios! E os aviões! Os mais formidáveis, os mais 'inacreditáveis', os melhores que já navegaram os mares ou cortaram os céus! Zarparemos para a costa de Tropicália e demonstraremos o que acontece quando se persegue um amigo do grandioso povo de Trumpetia!"

Um silêncio sepulcral tomou o recinto, interrompido apenas pelo distante som melódico de um vendedor de sorvetes que, do lado externo do palácio, anunciava seus produtos com toques de trompete de plástico.

 

3

Como observador imparcial, mal consegui conter um sorriso diante da completa desproporção do discurso. Falava de sua marinha como se fosse a única peça no tabuleiro mundial, esquecendo-se, em sua bravata histriônica, de um discreto consórcio de nações conhecido nos bastidores diplomáticos como "Os Ursos e os Dragões".

Estes países, muito menos inclinados a espetáculos públicos e governados por líderes que não pareciam ter saído de uma caricatura, possuíam — segundo mapas que consultei clandestinamente, escondidos no verso de um cardápio de pizzaria — arsenais discretos porém terrivelmente eficientes. Suas armas poderiam converter a orgulhosa armada de Trumpetia em recifes artificiais para mergulhadores em menos tempo do que se leva para dourar um pão de queijo no forno.

A cena era de uma ironia requintada: um homem-laranja, em seu palco dourado, ameaçando o mundo com seus custosos brinquedos de guerra, enquanto do outro lado do globo, um dragão paciente e um urso estoico o observavam, provavelmente com o mesmo divertimento de espectadores assistindo a uma comédia de pastelão particularmente absurda.

Já o presidente de Tropicália em elegante resposta ao presidente de Trumpetia apresentou artigo em prestigiado jornal local e entre outras questões (onde colocou os adultos na sala) afirmou: A democracia e a soberania de Tropicália não estão em discussão e não são negociáveis.

Parti de Trumpetia carregando uma convicção inabalável: a maior ameaça àquele povo não emanava de inimigos estrangeiros, mas da monumental e hilariante sátira que eles próprios haviam democraticamente elevado ao cargo supremo da nação. 

Observação Particular do Viajante: Devo confessar ao leitor que, mesmo tendo testemunhado as mais singulares bizarrices em Lilliput, Brobdingnag, Lupada  e entre os Houyhnhnms, o espetáculo que ora se desenrolava diante de meus olhos superava em absurdo e extravagância tudo quanto minha imaginação, por mais delirante que fosse em momentos de febre, jamais poderia ter arquitetado. Nem mesmo os mais engenhosos fabulistas de meu conhecimento seriam capazes de conceber tamanha inverossimilhança.

"Redator" responsável Ingo Dietrich Söhngen

Fontes: Swift, Jonathan. Gulliver's Travels (1726) • Trump, Donald. The Art of the Deal (1987) • The Apprentice (NBC, 2004-2017) • Vandré, Geraldo. "Pra não dizer que não falei das flores" (1968) • Invasão de 8 de janeiro de 2023, Brasília • Formação e expansão do BRICS • Hutcheon, Linda. A Theory of Parody (1985) • Müller, Jan-Werner. What Is Populism? (2016) • Star Trek (1966-presente). Jornais consultados pelas IAs: The New York Times, Washington Post, Folha de S.Paulo, O Globo, BBC Brasil.  Créditos: Texto por IA Gemini 2.5 Pro e Claude Sonnet. Imagens por  (1)SD3.5 Large e (3) DALL-E 3. (2) Laputa / ləˈptə / (Lupada, Lapuda  em espanhol) é uma ilha voadora descrita no livro de 1726 As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift. [1] Tem cerca de 41/2 milhas (71/4 km) de diâmetro, com uma base adamantina, que seus habitantes podem manobrar em qualquer direção usando levitação magnética. A ilha é a casa do rei de Balnibarbi e sua corte, e é usada pelo rei para impor seu domínio sobre as terras abaixo. Fonte  Wikipédia. A respeito de Swift leia o seguinte texto de DANIEL BENEVIDES https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0801201120.htm#:~:text=Os%20leitores%20que%20retornam%20a%20Gulliver%20(,de%20pol%C3%ADtica%2C%20sociedade%2C%20ci%C3%AAncia%2C%20justi%C3%A7a%20e%20educa%C3%A7%C3%A3o.