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domingo, 12 de outubro de 2025

 


Aula de História: A Tragédia dos Ucranianos no Recuo Alemão (1943-1945)

Imagem criada pela IA DALL·E 3 HD



Introdução

Bom dia, turma. Sentem-se, por favor. Hoje vamos estudar um dos capítulos mais esquecidos da Segunda Guerra Mundial. Não falaremos de grandes batalhas ou generais famosos. Falaremos de centenas de milhares de pessoas comuns que ficaram presas entre dois impérios totalitários e foram esmagadas por ambos. Preparem seus cadernos. Esta é uma história difícil, mas necessária.


O Cenário: A Ucrânia Entre Dois Terrores

Para entender esta história, precisamos voltar alguns anos antes da guerra. Em 1932 e 1933, Stalin deliberadamente promoveu uma escassez alimentar brutal na Ucrânia,  o que os Ucranianos chamam de Holodomor, que significa literalmente "matar pela fome". Não estamos falando de uma fome natural. Estamos falando de uma política deliberada onde Stalin ordenou o confisco de todos os grãos das aldeias ucranianas. Tropas soviéticas entravam nas casas, reviravam tudo, levavam até as sementes que os camponeses guardavam para o próximo plantio. Quem tentasse esconder comida era fuzilado na hora.

O resultado? Entre três e sete milhões de ucranianos morreram de fome. Aldeias inteiras desapareceram. Há relatos documentados de pessoas comendo cascas de árvore, raízes, até terra misturada com água na tentativa desesperada de encher o estômago. Famílias morriam juntas dentro de suas casas. Mães viam seus filhos definharem sem poder fazer nada. E o pior: enquanto isso acontecia, a União Soviética exportava grãos para o exterior. Os armazéns estavam cheios enquanto as pessoas morriam nas ruas.

Então imaginem: Estamos em 1941, apenas oito anos depois. Essas pessoas que sobreviveram ao Holodomor ainda se lembram de tudo. Ainda se lembram dos vizinhos mortos, dos filhos que perderam, do terror stalinista. E de repente, em 22 de junho de 1941, três milhões de soldados alemães cruzam a fronteira. A Operação Barbarossa começou.

Os alemães chegaram com panfletos prometendo libertação do jugo bolchevique. Prometeram devolver as terras aos camponeses, acabar com as fazendas coletivas que Stalin havia imposto à força, restaurar a liberdade religiosa. Para uma população que tinha acabado de sobreviver a um genocídio, essas promessas soavam tentadoras. Alguns ucranianos realmente viram os alemães, inicialmente, como libertadores. Ofereceram pão e sal, a tradicional saudação eslava. Alguns jovens até se alistaram em unidades auxiliares alemãs. E, muitos falavam o alemão fluentemente e foram inclusive incorporados nas tropas alemãs - posto que descendentes dos imigrantes que adentraram o território Ucraniano no século XIX. 

Mas havia um problema fundamental que logo se tornaria terrivelmente claro. A ideologia nazista considerava os eslavos, incluindo os ucranianos, como Untermenschen, sub-humanos. Segundo a hierarquia racial nazista, os ucranianos estavam apenas alguns degraus acima dos judeus na escala de "indignidade racial". Os alemães tinham um plano chamado Generalplan Ost que previa exterminar ou escravizar oitenta a oitenta e cinco por cento da população eslava e colonizar o território com alemães étnicos. Reduzir os sobreviventes a mero trabalho manual, sem educação, sem cultura, sem futuro.

Então a contradição era grotesca. Por um lado, a propaganda dizia "viemos libertar vocês". Por outro, a ideologia dizia "vocês são sub-humanos destinados à escravidão ou morte". E na prática, o que aconteceu? Execuções em massa, trabalho escravo, aldeias queimadas, terror sistemático. Os ucranianos rapidamente descobriram que haviam trocado um pesadelo por outro.

A Virada da Guerra

Agora,  avancemos para 1943. Anotem estas datas,  porque são cruciais. Entre agosto de 1942 e fevereiro de 1943, acontece a Batalha de Stalingrado. Vocês já estudaram isso, lembram? O Sexto Exército alemão fica cercado e se rende: noventa e um mil prisioneiros, dos quais apenas 5  mil a 6 mil retornaram para a Alemanha anos após o fim da guerra. A perda total do Eixo (Alemanha, Romênia, Itália, Hungria) na campanha de Stalingrado como um todo, incluindo mortos, feridos e capturados, aproximou-se de um milhão de homens.  Já os soviéticos perderam em torno de 1,1 milhão de soldados na defesa do território.  É o ponto de virada da guerra. A partir dali, a Wehrmacht está em retirada.

Depois vem Kursk, em julho e agosto de 1943. A última grande ofensiva alemã na Frente Oriental fracassa completamente. Os soviéticos não apenas defendem, mas contra-atacam com força esmagadora. E a partir de então, o Exército Vermelho está sempre avançando, sempre empurrando os alemães de volta para o oeste. E isso significava que estava empurrando de volta em direção à Ucrânia ocupada.

A Escolha Impossível

Imaginem agora que vocês são uma família ucraniana vivendo numa aldeia no outono de 1943. Vocês ouvem o barulho distante da artilharia. Sabem que o Exército Vermelho está se aproximando. E vocês precisam decidir, rapidamente, o que fazer.

Se vocês tiveram qualquer tipo de contato com os alemães durante os últimos dois anos, estão em perigo mortal. Trabalhou na administração local? Colaborador. Vendeu ovos ou leite aos soldados alemães? Colaborador. Serviu como policial auxiliar? Definitivamente colaborador.  Mas o regime soviético não se importava muito com nuances. Para Stalin e o NKVD (1), a polícia secreta soviética, simplesmente ter vivido sob ocupação alemã já era suspeito. Neutralidade não existia no vocabulário soviético.

As consequências eram claras. Se você fosse considerado colaborador, o destino era execução sumária ou deportação para a Sibéria, vinte e cinco anos de trabalhos forçados em campos onde poucos sobreviviam. E não era apenas você. Sua família inteira era considerada "contaminada". Culpa por associação. Então imaginem: você tem uma esposa, três filhos pequenos, seus pais idosos. O que você faz?

Ficar significava enfrentar a justiça stalinista, que não era justiça de forma alguma, mas vingança sistemática. Fugir significava seguir os alemães em retirada, os mesmos alemães que te consideravam sub-humano. Mas pelo menos fugir dava uma chance. Uma chance pequena, mas uma chance.

E assim, entre duzentas mil e quinhentas mil pessoas tomaram a decisão de fugir. Famílias inteiras. Avós, crianças, doentes. Empacotaram o que podiam carregar, pegaram suas carroças puxadas por cavalos ou bois, e se juntaram ao grande recuo alemão em direção ao oeste.

A Grande Marcha

Vamos visualizar como era essa coluna de refugiados. Primeiro vinham as tropas alemãs em retirada, soldados cansados, equipamento destruído, moral baixo. Depois deles, talvez um ou cinco quilômetros atrás, vinha a massa de civis ucranianos. Centenas de milhares de pessoas em carretas, caminhando, arrastando seus pertences.

O inverno ucraniano é brutal. Estamos falando de temperaturas entre vinte e quarenta graus Celsius negativos. Imaginem caminhar nessas condições, dia após dia, semana após semana. As crianças pequenas iam nas carretas quando havia espaço, mas muitas tinham que caminhar. Idosos que não aguentavam o ritmo ficavam para trás. E o que ficava para trás morria, simples assim. A coluna não podia parar.

Os perigos eram constantes. Hipotermia e congelamento matavam diariamente. Fome, porque as aldeias por onde passavam já tinham sido saqueadas várias vezes, primeiro pelos alemães avançando, depois pelos soviéticos perseguindo. Doenças se espalhavam rapidamente nas condições insalubres. Tifo, disenteria, tuberculose. Sem tratamento médico, essas doenças eram sentenças de morte.

E havia os bombardeios. A aviação soviética não distinguia entre colunas militares e civis. Viam movimento na estrada, atacavam. Bombas caindo, metralhadoras disparando. As pessoas corriam para as valas, se jogavam na neve, tentavam se proteger como podiam. Depois que os aviões passavam, voltavam para a estrada e seguiam. Os corpos ficavam para trás.

Há um testemunho documentado de uma sobrevivente chamada Olena que tinha oito anos na época. Ela conta que sua mãe carregava a irmã mais nova de três anos nos braços. O pai puxava uma carreta onde a avó estava deitada, doente demais para caminhar. Olena segurava uma corda amarrada na carreta para não se perder. Ela lembra de ver pessoas caindo de frio e exaustão. E lembra que a coluna não parava. Não podia parar. Os corpos congelados ficavam ao longo da estrada como marcos macabros da jornada.

Estimativas apontam que entre vinte e trinta por cento das pessoas que começaram essa jornada morreram no caminho. Isso significa que de cada dez pessoas que saíram de suas aldeias na Ucrânia, duas ou três nunca chegaram à Alemanha.

As Janelas Fechadas

Mas os que sobreviveram à jornada finalmente chegaram à Alemanha em 1944 e 1945. Vocês podem imaginar o que esperavam? Depois de toda a propaganda sobre libertação, sobre lutar juntos contra o bolchevismo, sobre serem aliados? Talvez esperassem alguma hospitalidade, algum reconhecimento por terem abandonado tudo para fugir do comunismo.

O que encontraram foi bem diferente. E aqui chegamos à imagem mais poderosa desta história inteira. As janelas fechadas.Imaginem a cena. Uma pequena cidade alemã, limpa, organizada, com suas casas de tijolos e ruas pavimentadas. São dez horas da manhã. De repente, ouve-se barulho de carroças se aproximando. Centenas de pessoas maltrapilhas entram na cidade. Suas roupas estão rasgadas, sujas de lama, sangue e fezes. Muitos estão descalços mesmo no frio intenso. Crianças choram de fome. Há um cheiro forte de doença, suor e morte que precede a coluna.

E o que fazem os alemães que moram nessas casas limpinhas? Um por um, sistematicamente, começam a fechar suas janelas. Clack, uma veneziana se fecha. Clack, outra. Clack, mais uma. Cortinas são puxadas às pressas. Portas são trancadas. Em questão de minutos, todas as janelas da rua principal estão fechadas. A cidade se transforma num corredor silencioso e hostil por onde passa aquela massa de humanidade sofredora.

Por que faziam isso? Vamos analisar com honestidade. Primeiro, havia a ideologia racial. Lembrem-se, esses alemães tinham sido educados por anos na doutrina nazista. Haviam aprendido que eslavos eram Untermenschen, sub-humanos, inferiores racialmente. Esse tipo de doutrinação não desaparece facilmente. Quando viam aqueles refugiados maltrapilhos, seu primeiro instinto não era compaixão, mas nojo baseado em racismo.

Segundo, havia o medo genuíno de contágio. Tifo, disenteria e outras doenças eram visíveis nos refugiados. Os alemães temiam que epidemias se espalhassem. Isso lhes dava uma justificativa aparentemente científica para a exclusão. "Não é que sejamos cruéis, é que precisamos proteger nossa saúde pública." Mas claro, essa preocupação sanitária estava profundamente misturada com o preconceito racial. 

Esta questão teria uma mudança radical alguns meses após com o sistemático bombardeio das cidades alemãs e com a invasão russa. 

Terceiro, e talvez o mais psicologicamente interessante, havia a negação da responsabilidade. Fechando as janelas, os alemães não precisavam ver. Não vendo, não precisavam reconhecer sua própria cumplicidade na situação. Não precisavam confrontar o fato de que seu país havia invadido a terra dessas pessoas, prometido libertação, usado seu trabalho, e agora as estava abandonando à própria sorte. Fechar a janela era uma maneira de fechar também a consciência.

Quarto, havia a escassez real de recursos. Em 1944 e 1945, a própria Alemanha estava sendo bombardeada sistematicamente. Cidades alemãs estavam sendo destruídas. Comida estava racionada. Então havia um cálculo frio: "Mal temos o suficiente para nós mesmos, por que deveríamos compartilhar com essas pessoas?" Mas notem que esse cálculo só era possível porque essas pessoas já tinham sido desumanizadas.

E quinto, havia o medo do futuro. Em 1944 e 1945, ficava claro para qualquer alemão com dois olhos na cara que a guerra estava perdida. Os refugiados eram um lembrete físico, tangível, da derrota que se aproximava. Eram um presságio do que estava por vir. Ver aquelas colunas era ver o futuro da própria Alemanha.

A hipocrisia era impressionante. Durante anos, a propaganda nazista tinha dito "estamos libertando vocês do bolchevismo", "somos irmãos na defesa da Europa", "lutamos juntos contra o comunismo asiático". Mas na prática, quando esses supostos aliados chegaram à Alemanha, foram tratados como animais. Deixados morrer de fome e frio. Ignorados, desprezados, rejeitados.

Há um testemunho particularmente revelador de um soldado alemão chamado Werner. Ele estava de licença na sua cidade natal quando uma coluna de ucranianos passou pela rua principal. Werner tinha lutado na Frente Oriental e havia combatido ao lado de auxiliares ucranianos. Conhecia esses homens como soldados corajosos. Mas quando voltou para casa, viu sua própria mãe fechar a janela às pressas quando os refugiados passaram. Ele perguntou por quê. Ela respondeu simplesmente: "Não quero ver essa gente suja." Werner não disse nada. Não havia o que dizer.

O Destino Pós-Guerra

Então a guerra termina em maio de 1945. A Alemanha está destruída, ocupada, dividida entre as potências vencedoras. E surge uma pergunta: o que fazer com esses centenas de milhares de ucranianos que estão em território alemão? Eles não podem voltar para casa porque Stalin os considera traidores. Mas também não são bem-vindos na Alemanha.

A solução foi a criação dos chamados Campos de Deslocados, ou DP Camps, administrados pela UNRRA, a Administração das Nações Unidas para Auxílio e Reabilitação (2). Esses campos foram montados principalmente na zona de ocupação americana, especialmente na Baviera, e na zona britânica no norte da Alemanha. Cerca de duzentos e cinquenta mil ucranianos acabaram nesses campos entre 1945 e 1952.

As condições eram precárias. Barracas ou barracões superlotados. Comida básica distribuída em rações. Trabalho ocasional quando disponível. Mas principalmente, o que dominava esses campos era a falta de perspectiva. As pessoas não sabiam o que seria delas. Não podiam voltar. Não podiam ficar legalmente. Estavam num limbo jurídico e existencial.

E então aconteceu algo que muitos historiadores consideram uma das maiores traições morais do pós-guerra. Nos Acordos de Yalta, em fevereiro de 1945, Churchill, Roosevelt e Stalin decidiram que todos os cidadãos soviéticos deveriam ser devolvidos à União Soviética, independentemente de sua vontade. Leiam isso de novo. Independentemente de sua vontade.

Entre 1945 e 1947, em operações que ficaram conhecidas como Operação Keelhaul, as forças britânicas e americanas forçaram o retorno de milhares de refugiados para a União Soviética. Usaram violência física. Mentiram para as pessoas dizendo que seriam apenas interrogadas. Separaram famílias à força.

O episódio mais horrível aconteceu em Lienz, na Áustria, em junho de 1945. Havia ali um grande campo de cossacos e ucranianos sob proteção britânica. No dia primeiro de junho, soldados britânicos cercaram o campo às cinco da manhã e anunciaram uma transferência temporária. Os refugiados imediatamente entenderam o que estava acontecendo. Eles seriam entregues aos soviéticos.

O que se seguiu foi uma tragédia indescritível. Famílias inteiras se jogaram no rio Drava para se afogar em vez de serem entregues. Houve enforcamentos coletivos. Pais mataram seus próprios filhos para poupá-los da tortura soviética que certamente viria. Os que tentaram resistir se agarraram a cercas com tanta força que os soldados britânicos tiveram que quebrar seus dedos para soltá-los. Crianças foram arrancadas dos braços de mães que gritavam e imploravam em inglês quebrado: "Please, no Stalin, no Stalin."

Cerca de cinquenta mil pessoas foram entregues aos soviéticos em Lienz e em operações similares. A maioria foi executada ou enviada ao Gulag. Estimamos que entre trinta e cinquenta por cento morreram nos primeiros meses após a repatriação.

Há um testemunho de um soldado britânico, James Smith, que participou dessas operações. Ele disse anos depois: "Foi a pior coisa que fiz na guerra. Pior que o combate. Pegar mulheres e crianças chorando, implorando para não irem para Stalin, e colocá-las em trens para a morte. Nunca dormi direito depois daquilo."

Por que os Aliados fizeram isso? Era pura política realista. Yalta havia prometido isso a Stalin. A guerra com o Japão ainda estava acontecendo e os Aliados queriam manter Stalin contente. Havia também uma dose de ignorância genuína sobre quão brutal era o regime soviético. E infelizmente, havia alguns que realmente acreditavam que "traidores devem enfrentar justiça", sem entender as nuances da situação.

Observação: A soma de todas as operações de repatriação forçada entre 1944 e 1947 leva a um número total de pessoas entregues à URSS pelos Aliados Ocidentais ( americanos e britânicos) estimado em cerca de 2 milhões de pessoas. E aqui cabem explicações para evitar dúvidas: As operações de repatriação forçada conduzidas entre 1944 e 1947 representam um dos capítulos mais sombrios da história do pós-guerra, quando os refugiados foram entregues pelos Aliados Ocidentais à União Soviética, selando o destino trágico de incontáveis vidas humanas.

Esta cifra impressionante, aceita pela comunidade historiográfica internacional, engloba uma diversidade de pessoas que, por diferentes razões, encontraram-se sob o controle das forças americanas e britânicas ao final do conflito mundial. Entre eles, figuravam prisioneiros de guerra soviéticos que haviam sobrevivido aos campos de concentração alemães, trabalhadores forçados deportados de suas terras natais para servir ao Reich, e uma miríade de grupos étnicos que haviam colaborado com os alemães ou simplesmente fugido do avanço do Exército Vermelho.

Os cossacos, com sua longa tradição de resistência ao poder central russo, constituíam uma parcela significativa destes refugiados. Junto a eles, ucranianos que sonhavam com a independência de sua pátria, habitantes dos países bálticos que haviam perdido sua soberania recém-conquistada, e povos do Cáucaso que viam na derrota alemã o fim de suas esperanças de autonomia. Também se encontravam entre os repatriados os remanescentes da emigração russa branca, aqueles que haviam deixado a Rússia décadas antes, durante a Guerra Civil, e agora viam-se novamente face a face com o poder soviético.

A Operação Keelhaul, como ficou conhecida a principal dessas operações de transferência, desenrolou-se principalmente a partir de territórios sob controle anglo-americano. Das montanhas austríacas, onde campos inteiros de refugiados aguardavam seu destino em Lienz e Judenburg, aos centros de triagem estabelecidos nas zonas de ocupação alemãs, milhares de pessoas foram sistematicamente catalogadas e enviadas de volta à URSS. Na Itália setentrional, particularmente em Trieste, outros contingentes foram processados e despachados através da cortina de ferro que rapidamente se erguia pela Europa.

O destino que aguardava estes repatriados era amplamente conhecido pelas autoridades ocidentais. Os campos de trabalho espalhados pela vastidão siberiana, os centros de "filtragem" onde a lealdade ao regime era minuciosamente examinada, e as execuções sumárias que aguardavam aqueles considerados traidores da pátria socialista constituíam o sombrio panorama que se abria diante daqueles que cruzavam as fronteiras soviéticas sob escolta militar.

As estimativas históricas sugerem que apenas uma fração destes dois milhões de almas retornaria algum dia às suas casas. Uma parcela considerável pereceria nos primeiros meses após a repatriação, vítima da brutal repressão stalinista que não distinguia entre colaboradores voluntários e aqueles que simplesmente tiveram o infortúnio de serem capturados pelo inimigo. Outros desapareceriam na imensidão do arquipélago Gulag, suas vidas consumidas pelo trabalho forçado nas condições mais adversas imagináveis.

Esta política de entrega sistemática encontrava sua justificativa nos acordos estabelecidos em Yalta, cabe repetir, onde as grandes potências aliadas haviam decidido que todos os cidadãos soviéticos deveriam retornar à sua pátria, independentemente de sua vontade pessoal. Churchill e Roosevelt, ansiosos por manter a cooperação com Stalin no desenho da nova ordem mundial, fecharam os olhos ao destino que aguardava aqueles que suas tropas entregavam às autoridades soviéticas.

Assim, enquanto a Europa celebrava a libertação do jugo nazista, milhões de pessoas descobriam que a liberdade era um privilégio que lhes seria negado, suas vidas tornando-se moeda de troca na grande partida diplomática que definiria os contornos do mundo pós-guerra.

Os Caminhos de Sobrevivência

Mas nem todos "Ucranianos" foram repatriados. Alguns conseguiram evitar esse destino através de várias estratégias. Falsificação de documentos era comum. Se você conseguisse papéis dizendo que era da Letônia, Estônia ou Lituânia em vez de ucraniano diretamente da URSS, tinha mais chances. Esses países bálticos eram vistos como "menos comunistas" pelos ocidentais, embora isso fosse uma distinção artificial.

Casamento também mudava o status jurídico. Mulheres jovens ucranianas que se casavam com alemães ou soldados americanos ou britânicos ganhavam proteção através do marido. Alguns simplesmente fugiram dos campos DP e se esconderam em cidades alemãs, vivendo na clandestinidade por anos.

E houve ajuda religiosa significativa. A Igreja Católica e igrejas ortodoxas criaram redes de proteção. O Vaticano chegou a emitir documentos falsos para ajudar refugiados a escapar. Padres e freiras escondiam pessoas, forneciam identidades falsas, facilitavam emigração.

Quando a Guerra Fria se intensificou no final dos anos 1940, a situação mudou. De repente, os anticomunistas viraram úteis para o Ocidente. As portas da emigração se abriram. E assim, ao longo dos anos 1950, cerca de cento e cinquenta a duzentos mil ucranianos conseguiram emigrar para outros países.

Os Estados Unidos receberam o maior número, cerca de oitenta mil, concentrados principalmente em Cleveland, Chicago, Nova York e Detroit. O Canadá recebeu o segundo maior número, cerca de quarenta mil. Eles se estabeleceram nas pradarias, trabalhando em agricultura, e em cidades como Toronto, Montreal e Winnipeg. Até hoje há comunidades ucranianas muito fortes no Canadá. 

Na América do Sul, a Argentina de Perón acolheu cerca de dez mil  refugiados, e  o Brasil recebeu aproximadamente sete mil, que se estabeleceram principalmente no Paraná, especialmente em Prudentópolis, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

A Austrália recebeu vinte mil, trabalhando principalmente em fábricas e construção em Melbourne e Sydney. E o Reino Unido aceitou quinze mil, muitos trabalhando na indústria têxtil em Bradford e Manchester.

A Diáspora e o Legado

Esses emigrantes criaram algo notável no exílio. Construíram igrejas greco-católicas e ortodoxas em cada comunidade significativa. Estabeleceram escolas de língua ucraniana onde seus filhos aprendiam não apenas o idioma, mas a história e a cultura da terra que haviam perdido. Criaram centros culturais, associações de veteranos, grupos folclóricos.

A identidade ucraniana foi preservada conscientemente através de gerações no exílio. Nas famílias, falava-se ucraniano em casa. Celebravam-se festivais tradicionais como a Páscoa ortodoxa com toda a ritualística antiga. Havia uma forte preferência por casamentos dentro da comunidade. E acima de tudo, mantinham viva a memória da pátria perdida.

Politicamente, essas comunidades eram e são fortemente anticomunistas. Mantiveram vivo o apoio à independência ucraniana durante todos os anos da Guerra Fria. Preservaram a memória do Holodomor quando dentro da União Soviética isso era proibido. E mantiveram uma narrativa de serem vítimas duplas, tanto de Stalin quanto de Hitler, que é historicamente complexa mas contém verdades importantes.

As Questões Difíceis

Agora precisamos enfrentar as questões morais difíceis que esta história levanta. E quero que vocês pensem honestamente sobre elas, porque não há respostas fáceis.

Primeira questão: foram colaboradores ou vítimas? A resposta honesta é que depende de cada caso individual. Alguns ucranianos realmente colaboraram ativamente com os nazistas. Serviram em unidades de polícia auxiliar que participaram de atrocidades, incluindo massacres de judeus. Esses indivíduos eram culpados de crimes reais e graves. Não há como escapar disso.

Mas a maioria não estava nessa categoria. A maioria era de camponeses comuns que simplesmente tentavam sobreviver entre dois regimes genocidas. Um camponês que vendeu ovos a soldados alemães para alimentar sua família era colaborador? Uma mulher que trabalhou como secretária na administração alemã local era colaboradora? Uma família que simplesmente viveu sob ocupação sem resistir ativamente era colaboradora?

O regime soviético não fazia essas distinções. Para Stalin, se você viveu sob ocupação alemã, você era suspeito. Essa abordagem era obviamente injusta e levou à punição de milhões de pessoas inocentes. Mas ao mesmo tempo, não podemos ignorar que alguns ucranianos realmente cometeram crimes horríveis.

A lição histórica aqui é que julgamentos morais absolutos falham em situações de guerra total. Contexto importa. Intenção importa. E principalmente, precisamos ter humildade ao julgar pessoas que enfrentaram escolhas que nós, sentados confortavelmente em sala de aula oitenta anos depois, nunca tivemos que enfrentar.

Segunda questão: por que os alemães os trataram tão mal? A resposta é direta: racismo ideológico. O nazismo criou um paradoxo impossível. Precisavam de soldados auxiliares, trabalhadores, apoio local. Mas ao mesmo tempo, acreditavam genuinamente que essas pessoas eram sub-humanas e deveriam ser escravizadas ou exterminadas. Como você resolve essa contradição? Você não resolve. Você simplesmente usa as pessoas enquanto são úteis e as despreza ao mesmo tempo.

As janelas fechadas simbolizam perfeitamente isso. Era a desumanização completa. Era a recusa de reconhecer responsabilidade moral. Era a hipocrisia total da suposta "libertação". Os alemães queriam os benefícios de ter aliados locais sem ter que tratá-los como seres humanos.

Terceira questão: por que os Aliados os entregaram a Stalin? Esta é talvez a mais perturbadora porque os Aliados supostamente eram os "mocinhos" da história. A resposta é realismo político brutal. Yalta havia prometido a repatriação. Stalin ainda era tecnicamente um aliado. A guerra com o Japão continuava. Manter Stalin contente era prioritário.

Mas havia também ignorância e até concordância moral com a repatriação. Muitos oficiais aliados simplesmente não entendiam quão brutal era o regime soviético. Pensavam que os refugiados estavam exagerando. Alguns até concordavam que "traidores devem enfrentar justiça". Era uma visão simplista de bem contra mal que não considerava as nuances da situação.

O resultado foi uma traição moral massiva. Os Aliados entregaram pessoas que poderiam ter salvado para morte certa. É uma mancha permanente na história da "libertação" aliada.

Quarta questão, e esta é para vocês: o que isso nos ensina hoje? Várias lições permanentes emergem desta história.

Primeiro, civis sempre pagam o preço mais alto em guerras. Os ucranianos maltrapilhos nas estradas não escolheram a guerra. Foram simplesmente esmagados entre impérios. Isso continua acontecendo em conflitos ao redor do mundo hoje.

Segundo, propaganda e realidade raramente coincidem em guerra. A "libertação" nazista era mentira. A ideologia racista sempre venceu a propaganda. Promessas feitas em tempo de guerra raramente são cumpridas. Devemos sempre ser céticos de retórica grandiosa.

Terceiro, não há lados completamente puros em guerra. Os nazistas tinham sua ideologia genocida. Os soviéticos tinham seu terror stalinista. E até os Aliados cometeram atos moralmente indefensáveis como a repatriação forçada. Guerra corrompe todos os lados, em graus diferentes.

Quarto, refugiados são seres humanos. As janelas fechadas acontecem metaforicamente até hoje. É fácil desumanizar pessoas que sofrem, especialmente quando são diferentes culturalmente ou etnicamente. Precisamos resistir conscientemente a esse impulso.

E quinto, escolhas em situações extremas são impossíveis. Ficar ou fugir? Ambas as opções significavam possível morte. É fácil para nós julgarmos de nossa posição confortável oitenta anos depois. Mas honestamente, o que teríamos feito? Ninguém sabe até estar naquela situação.

Resumo 

Vamos resumir o que aprendemos hoje. Estudamos como o Holodomor criou ressentimentos que os alemães exploraram. Como a invasão nazista veio com propaganda de libertação que mascarava planos genocidas. Como ucranianos enfrentaram uma escolha impossível quando o Exército Vermelho retornou. Como centenas de milhares fugiram em colunas maltrapilhas, sofrendo frio, fome e bombardeios. Como foram recebidos na Alemanha com janelas literalmente fechadas, simbolizando completa desumanização. Como no pós-guerra alguns foram forçadamente devolvidos à morte enquanto outros conseguiram emigrar e construir novas vidas. E como a diáspora ucraniana mantém até hoje a memória dessas experiências.

A imagem que deve ficar com vocês é aquela das janelas fechadas. De um lado, dentro da casa aquecida, uma família alemã com comida na mesa. Do outro lado, na rua gelada, uma coluna de refugiados maltrapilhos. Crianças descalças. Avós tossindo em carroças. Pais puxando cargas impossíveis. Mães carregando bebês. Todos desesperados. Todos humanos. E entre eles, uma janela fechada. Essa janela representa a facilidade com que desumanizamos o outro. Representa a hipocrisia de promessas não cumpridas. Representa o sofrimento de civis em guerras ideológicas.

Esta não é apenas história do passado. Os padrões se repetem. Refugiados ainda existem. Janelas ainda se fecham, literal e metaforicamente. Promessas ainda são quebradas. Civis ainda são esmagados entre forças maiores que eles.

Estudamos esta tragédia esquecida não para julgar de nossa posição confortável, mas para entender a complexidade humana, reconhecer padrões que se repetem, lembrar que por trás de estatísticas há pessoas reais, e aprender a não fechar nossas próprias janelas quando o sofrimento passa por nossas ruas.

A história dos ucranianos que seguiram o recuo alemão é história de sobrevivência impossível, dupla traição, resiliência humana e memória preservada no exílio. É uma história que merece ser contada e lembrada.


Conclusão: As Janelas que Permanecem Fechadas

Antes de encerrarmos, preciso falar sobre algo que está muito mais perto de nós do que aquela Alemanha de 1944-1945. Preciso falar sobre as janelas que continuam fechadas aqui mesmo, no Brasil, todos os dias.

Quando contei sobre os alemães fechando suas janelas para os ucranianos maltrapilhos, vocês provavelmente sentiram indignação. É fácil sentir indignação por algo que aconteceu há oitenta anos, em outro continente, feito por pessoas que consideramos claramente racistas e erradas. Mas e as janelas que nós fechamos?

Vou ser direto. O Brasil tem suas próprias janelas fechadas, e elas estão escancaradamente visíveis para quem quiser ver. São as janelas que se fecham quando uma pessoa negra entra no elevador. São as portas que se trancam quando um jovem negro passa pela calçada. São os olhares de desconfiança quando uma mulher negra entra numa loja cara. São as oportunidades de emprego que simplesmente "não aparecem" para candidatos com nomes que soam afro-brasileiros. São os currículos idênticos onde o candidato com nome europeu recebe chamada e o candidato com nome africano não recebe.

E para os povos indígenas? As janelas fechadas são ainda mais violentas. São as terras que lhes foram prometidas constitucionalmente mas que nunca são demarcadas porque há interesse comercial nelas. São os assassinatos de lideranças indígenas que acontecem sistematicamente e raramente resultam em justiça. São os discursos que os tratam como obstáculos ao desenvolvimento, como se desenvolvimento significasse necessariamente destruir quem estava aqui primeiro. São as doenças que os dizimam porque o Estado não fornece atendimento básico de saúde nas aldeias. São os seus conhecimentos ancestrais sobre a floresta sendo roubados por corporações que depois patenteiam o que eles sempre souberam.

Isso é racismo estrutural. E a palavra "estrutural" significa exatamente isto: não precisa ser consciente ou intencional para ser real e devastador. Os alemães que fecharam suas janelas para os ucranianos provavelmente se consideravam pessoas decentes. Muitos talvez nem se sentissem particularmente racistas. Simplesmente haviam sido educados numa sociedade que normalizou aquele tipo de desprezo. Haviam internalizado uma hierarquia racial que parecia "natural".

No Brasil, acontece o mesmo. Quantas pessoas diriam abertamente "sou racista"? Poucas. Mas quantas atravessam a rua quando veem um grupo de jovens negros? Quantas evitam contratar funcionários negros para posições de liderança? Quantas consideram que terras indígenas são "desperdício" porque não estão sendo exploradas comercialmente? Muitas. A maioria nem percebe que está fechando janelas. Simplesmente age conforme a estrutura social lhes ensinou.

E os números não mentem. No Brasil, a cada vinte e três minutos um jovem negro é assassinado. Vinte e três minutos. Enquanto estamos aqui nesta aula, pelo menos duas pessoas negras foram mortas lá fora. A expectativa de vida de uma pessoa negra no Brasil é menor que a de uma pessoa branca. O acesso à educação superior é profundamente desigual. A renda média é drasticamente diferente. E para os indígenas? A situação é ainda pior. Suas terras são invadidas sistematicamente. Seus rios são envenenados por garimpo ilegal. Suas florestas são queimadas para criar pasto.

E aqui está a parte mais perturbadora: assim como os alemães faziam suas vidas normais enquanto refugiados ucranianos morriam nas ruas, nós fazemos nossas vidas normais enquanto essa violência estrutural acontece ao nosso redor. Vamos ao shopping, tiramos férias, celebramos feriados, reclamamos do trânsito. E as janelas permanecem fechadas.

Agora olhem para a Ucrânia de hoje, em 2025. Há uma guerra acontecendo lá agora. E novamente surgem as promessas. A União Europeia, os Estados Unidos, as grandes potências falam em "apoiar a democracia ucraniana", em "defender a soberania europeia", em "proteger os valores ocidentais". E vocês devem perguntar: é sobre o povo ucraniano ou é sobre algo mais?

Vou ser honesto com vocês. É sobre algo mais. A Ucrânia tem algumas das terras mais férteis do mundo, o famoso chernozem, a terra negra. É um dos maiores produtores de grãos da Europa. Tem recursos minerais significativos. Tem posição estratégica entre a Europa e a Rússia. E tem um valor geopolítico imenso para quem controla sua orientação política.

Então quando ouvimos promessas grandiosas de apoio à Ucrânia, precisamos lembrar das janelas fechadas de 1944. Precisamos lembrar que promessas em contexto de guerra raramente são sobre as pessoas comuns. São sobre interesses comerciais, estratégicos, geopolíticos. O povo ucraniano importa na retórica. Mas nas decisões concretas? Nas negociações de paz onde seu território pode ser barganhado? Nas reconstruções pós-guerra onde contratos lucrativos serão distribuídos?

Não estou dizendo que a Ucrânia não merece apoio. Estou dizendo que precisamos ser realistas sobre o que move as grandes potências. Não é compaixão humanitária. Nunca foi. Em 1944, não era compaixão que movia os alemães. Em 2025, não é compaixão que move as potências europeias. É interesse. Sempre foi interesse.

E o povo ucraniano? Assim como em 1944, continua sendo esmagado entre forças maiores. Continua tendo que fazer escolhas impossíveis. Continua sendo usado como peça num jogo geopolítico que não controla. E quando a guerra terminar, quando os interesses tiverem sido satisfeitos, quando os contratos tiverem sido assinados, o que acontecerá com aqueles que perderam tudo? Quantas janelas se fecharão novamente? (3) (4)

Então termino esta aula com um desafio para vocês. Não basta estudar história e sentir indignação pelo passado. Não basta ver as janelas fechadas de 1944 e pensar "que horror, que gente cruel". O desafio é olhar para as janelas que vocês mesmos têm fechado. Para as vezes que atravessaram a rua. Para as vezes que duvidaram da competência de alguém por sua cor. Para as vezes que ignoraram a violência contra povos indígenas porque "precisamos desenvolver o país". Para as vezes que repetiram, sem pensar, estruturas de opressão que foram construídas ao longo de séculos.

E o desafio é ver além das promessas grandiosas de políticos e potências. É perguntar sempre: de quem é o interesse real aqui? Quem lucra? Quem paga o preço? E principalmente: como posso não ser cúmplice?

Porque no final, a história não é sobre o passado. É sobre o presente que estamos repetindo. E se não aprendermos com aquelas janelas fechadas de 1944, se não reconhecermos as janelas que continuamos fechando hoje, se não percebermos como as mesmas dinâmicas de exploração se repetem disfarçadas de nova retórica, então estudar história não serve para nada.

As janelas podem se abrir. Mas isso exige coragem. Exige reconhecer nossa própria cumplicidade em sistemas de opressão. Exige agir contra nossos próprios interesses imediatos em nome de justiça maior. Exige ver humanidade onde fomos ensinados a ver ameaça ou inferioridade. A provocação que insisto em apresentar de forma reiterada  é se realmente queremos construir  uma nova humanidade. 

Vocês têm essa coragem?


Redação com base em instruções passadas para a IA Claude Sonnet 4.5. "Redator" responsável Ingo Dietrich Söhngen.

 

Base Bibliográfica e fontes consultadas pela IA.

1. NKVD (russoНКВД, Народный комиссариат внутренних дел, translit. Narodniy Komissariat Vnutrennikh Dielem portuguêsComissariado do Povo de Assuntos Internos, foi o Ministério do Interior da União Soviética. Criado em 1934, o NKVD incorporou o GPU ou OGPU (Obiedinionnoye Gosudarstvennoye Politicheskoye Upravlenie, "Diretório Político Unificado do Estado"), transformado em GUGB (ГУГБ, Главное управление государственной безопасности, translit. Glavnoe upravlenie gosudarstvennoy bezopasnostiem portuguêsAdministração Central da Segurança do Estado) e foi substituído pelo Ministerstvo vnoutrennikh diel (MVD), o Ministério do Interior. Fonte: Wikipédia.

2.  A UNRRA (Administração das Nações Unidas para Auxílio e Reabilitação),  foi criada em novembro de 1943, antes da fundação oficial da Organização das Nações Unidas (ONU), em outubro de 1945.

3.  Quantos são os refugiados ucranianos em outubro de 2025?

Com base nos dados mais recentes das Nações Unidas (ACNUR) e outras organizações internacionais:

  • Refugiados Globais: Estima-se que existam cerca de 6,8 milhões de refugiados da Ucrânia registrados globalmente. Esse número refere-se a pessoas que cruzaram fronteiras internacionais e receberam status de proteção temporária ou similar.
  • Pessoas Deslocadas Internamente: Além dos refugiados, há aproximadamente 4,5 milhões de pessoas deslocadas internamente (IDPs) na Ucrânia. São pessoas que fugiram de suas casas, mas permanecem dentro do território ucraniano.

Somando os dois grupos, mais de 11 milhões de ucranianos foram forçados a deixar seus lares por causa da guerra.

Onde os refugiados se localizam?

Os refugiados ucranianos estão espalhados por todo o mundo, mas a grande maioria permanece na Europa, concentrada principalmente nos países vizinhos e naqueles com políticas de acolhimento bem estabelecidas.

Aqui está a distribuição aproximada dos maiores países anfitriões:

  1. Alemanha: Continua sendo o país que mais acolhe refugiados ucranianos, com cerca de 1,3 milhão de pessoas. A Alemanha oferece um sistema de suporte social robusto e acesso ao mercado de trabalho.

  2. Polônia: Foi o principal ponto de entrada e ainda abriga uma comunidade enorme, com aproximadamente 950.000 refugiados registrados. Muitos ucranianos se integraram à sociedade polonesa devido à proximidade cultural e linguística.

  3. Chéquia (República Tcheca): Tem a maior concentração de refugiados per capita. Abriga cerca de 380.000 ucranianos.

  4. Reino Unido: Recebeu cerca de 250.000 refugiados através de seus programas de vistos específicos, como o "Homes for Ukraine".

  5. Espanha: Tornou-se um destino importante, com aproximadamente 200.000 refugiados registrados.

  6. Itália: Abriga cerca de 170.000 ucranianos.

  7. Países Baixos (Holanda): Acolheu cerca de 150.000 pessoas.

  8. Outros países europeus: Países como França, Áustria, Suíça e os países nórdicos também receberam dezenas de milhares de refugiados cada um.

Fora da Europa, países como os Estados Unidos e o Canadá também receberam um número significativo de ucranianos, na casa das dezenas de milhares, através de programas especiais de imigração e patrocínio.

Em resumo, a Europa continua a arcar com a maior parte da responsabilidade no acolhimento, com Alemanha e Polônia liderando em números absolutos.

4. Em junho de 2025, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais apresentou estimativas  entre 60 mil e 100 mil soldados ucranianos mortos e um total de 400 mil baixas.

O mesmo Centro estima que tenham sido mortos 250 mil soldados russos. Dados de fonte aberta analisados pela Mediazona e pelo serviço russo da BBC colocam o número de soldados russos mortos significativamente mais baixo, entre 121 mil e 165 mil. In https://pt.euronews.com/my-europe/2025/08/27/verificacao-de-factos-a-ucrania-ja-perdeu-1,7-milhoes-de-soldados-na-guerra. 

Bibliografia e Fontes de Pesquisa

Fontes Primárias

Arquivos e Documentos

UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) Archives

  • Localização: UN Archives, Nova York
  • Registros dos Campos de Deslocados (DP Camps), 1945-1952
  • Estatísticas populacionais, condições de vida, processos de emigração
  • Disponível em: https://archives.un.org

National Archives and Records Administration (NARA), Estados Unidos

  • RG 260: Records of U.S. Occupation Headquarters, World War II
  • Documentos sobre Operação Keelhaul
  • Relatórios de repatriação forçada, 1945-1947

The National Archives (TNA), Reino Unido

  • FO 371: Foreign Office Political Correspondence
  • WO 32: War Office Registered Files
  • Documentos sobre Lienz e outras operações de repatriação

Bundesarchiv (Arquivo Federal Alemão)

  • Documentos sobre recepção de refugiados no Reich (1943-1945)
  • Relatórios administrativos de cidades alemãs

Coleções de Testemunhos Orais

Ukrainian Oral History Project

  • Harvard Ukrainian Research Institute
  • Centenas de entrevistas com sobreviventes da Segunda Guerra Mundial
  • Disponível parcialmente em: https://huri.harvard.edu

USC Shoah Foundation - Visual History Archive

  • Inclui testemunhos de refugiados não-judeus da Europa Oriental
  • Acesso através de universidades participantes

Hoover Institution Library & Archives, Stanford University

  • Displaced Persons Camps Collection
  • Entrevistas e documentos pessoais de refugiados ucranianos

Bibliografia Principal

Obras Acadêmicas Fundamentais

SNYDER, Timothy. Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin. New York: Basic Books, 2010.

  • Análise abrangente do sofrimento nas terras entre dois regimes totalitários
  • Dados sobre Holodomor, ocupação nazista, políticas de extermínio
  • Capítulos relevantes: 1, 4, 5, 7

TOLSTOY, Nikolai. Victims of Yalta: The Secret Betrayal of the Allies, 1944-1947. London: Hodder & Stoughton, 1977.

  • Obra clássica sobre repatriação forçada
  • Documentação detalhada da Operação Keelhaul
  • Testemunhos de Lienz e outros episódios

ELLIOTT, Mark R. Pawns of Yalta: Soviet Refugees and America's Role in Their Repatriation. Urbana: University of Illinois Press, 1982.

  • Perspectiva americana sobre repatriação
  • Documentação de políticas aliadas
  • Análise de responsabilidades morais

DALLIN, Alexander. German Rule in Russia 1941-1945: A Study of Occupation Policies. 2nd ed. Boulder: Westview Press, 1981.

  • Estudo definitivo sobre ocupação nazista no leste
  • Políticas administrativas, propaganda, exploração
  • Contradições entre propaganda e ideologia racial

ARMSTRONG, John A. Ukrainian Nationalism. 3rd ed. Englewood: Ukrainian Academic Press, 1990.

  • Contexto político ucraniano
  • Movimentos de colaboração e resistência
  • Nuances da situação ucraniana sob ocupação

Estudos Específicos sobre Refugiados e DP Camps

WYMAN, Mark. DPs: Europe's Displaced Persons, 1945-1951. Ithaca: Cornell University Press, 1998.

  • Estudo abrangente dos campos de deslocados
  • Condições de vida, políticas de emigração
  • Estatísticas populacionais detalhadas

GROSSMANN, Atina. Jews, Germans, and Allies: Close Encounters in Occupied Germany. Princeton: Princeton University Press, 2007.

  • Interações entre diferentes grupos de refugiados
  • Contexto da Alemanha pós-guerra
  • Capítulos sobre refugiados do leste

GATRELL, Peter. The Making of the Modern Refugee. Oxford: Oxford University Press, 2013.

  • Contexto mais amplo sobre refugiados no século XX
  • Capítulo 4: "The Second World War and its Aftermath"
  • Análise de políticas internacionais

COHEN, Gerard Daniel. In War's Wake: Europe's Displaced Persons in the Postwar Order. Oxford: Oxford University Press, 2012.

  • Políticas internacionais sobre deslocados
  • Papel da UNRRA e ONU
  • Tensões da Guerra Fria

Holodomor e Contexto Pré-Guerra

CONQUEST, Robert. The Harvest of Sorrow: Soviet Collectivization and the Terror-Famine. Oxford: Oxford University Press, 1986.

  • Obra clássica sobre Holodomor
  • Dados estatísticos, metodologia do genocídio
  • Impacto na população ucraniana

APPLEBAUM, Anne. Red Famine: Stalin's War on Ukraine. New York: Doubleday, 2017.

  • Estudo recente e abrangente sobre Holodomor
  • Documentação de arquivo soviético
  • Análise do contexto político

SNYDER, Timothy. Sketches from a Secret War: A Polish Artist's Mission to Liberate Soviet Ukraine. New Haven: Yale University Press, 2005.

  • Contexto ucraniano entre guerras
  • Movimentos nacionalistas e resistência

Diáspora Ucraniana

SATZEWICH, Vic. The Ukrainian Diaspora. London: Routledge, 2002.

  • Estudo sociológico da emigração ucraniana
  • Capítulos sobre emigração pós-Segunda Guerra
  • Formação de comunidades no exílio

SUBTELNY, Orest. Ukrainians in North America: An Illustrated History. Toronto: University of Toronto Press, 1991.

  • História visual da diáspora
  • Dados sobre ondas migratórias
  • Preservação cultural no exílio

MAGOCSI, Paul Robert. The Ukrainian Americans. New York: Chelsea House, 1991.

  • Foco específico na emigração para EUA
  • Integração e preservação identitária
  • Dados estatísticos

Ideologia Nazista e Políticas Raciais

MAZOWER, Mark. Hitler's Empire: How the Nazis Ruled Europe. New York: Penguin, 2008.

  • Políticas de ocupação nazista
  • Hierarquias raciais na prática
  • Contradições entre necessidade e ideologia

LOWER, Wendy. Nazi Empire-Building and the Holocaust in Ukraine. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2005.

  • Políticas específicas na Ucrânia
  • Genocídio e exploração
  • Papel de colaboradores locais

REES, Laurence. The Holocaust: A New History. New York: PublicAffairs, 2017.

  • Contexto mais amplo do genocídio
  • Capítulos sobre Europa Oriental
  • Hierarquias de vítimas

Acordos de Yalta e Guerra Fria

MASTNY, Vojtech. Russia's Road to the Cold War: Diplomacy, Warfare, and the Politics of Communism, 1941-1945. New York: Columbia University Press, 1979.

  • Perspectiva soviética sobre acordos pós-guerra
  • Exigências de Stalin sobre repatriação

BETHELL, Nicholas. The Last Secret: The Delivery to Stalin of Over Two Million Russians by Britain and the United States. New York: Basic Books, 1974.

  • Documentação detalhada da traição aliada
  • Casos específicos de repatriação forçada
  • Responsabilidades britânicas e americanas

Estudos Específicos sobre Racismo Estrutural (Contexto Brasileiro)

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.

  • Conceituação fundamental de racismo estrutural
  • Aplicação ao contexto brasileiro

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o Autoritarismo Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

  • Raízes históricas do racismo no Brasil
  • Estruturas de exclusão

GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020 (coletânea póstuma).

  • Análise pioneira sobre racismo e interseccionalidade no Brasil

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

  • Formação histórica e exclusões estruturais
  • Povos indígenas e afrodescendentes

KRENAK, Ailton. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

  • Perspectiva indígena contemporânea
  • Crítica ao modelo de desenvolvimento

ATLAS DA VIOLÊNCIA 2023. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).


Dados Estatísticos e Demográficos

População e Movimento de Refugiados

International Refugee Organization (IRO) Reports, 1947-1951

  • Sucessor da UNRRA
  • Dados sobre emigração de DP camps
  • Estatísticas por nacionalidade e destino

U.S. Displaced Persons Commission. Memo to America: The DP Story. Washington, DC: Government Printing Office, 1952.

  • Relatório final americano sobre DPs
  • Números de admissão nos EUA

Statistics Canada - Census Data, 1951-1961

  • Dados sobre imigração ucraniana pós-guerra no Canadá
  • Distribuição geográfica

Australian Bureau of Statistics - Immigration Statistics, 1945-1960

  • Dados sobre imigração eslava na Austrália

Holodomor

Ukrainian Research Institute Demographic Studies

  • Harvard University
  • Estimativas populacionais e mortalidade

Soviet Census Data, 1926, 1937, 1939

  • Dados oficiais (com limitações conhecidas)
  • Análise de discrepâncias populacionais

Recursos Online e Bases de Dados

United States Holocaust Memorial Museum (USHMM)

Yad Vashem - The World Holocaust Remembrance Center

Ukrainian Canadian Research and Documentation Centre (UCRDC)

Harvard Ukrainian Research Institute Digital Library

Holodomor Research and Education Consortium


Nota Metodológica sobre as Fontes

Limitações e Considerações

Estatísticas de Refugiados: Os números apresentados na aula (200.000-500.000 refugiados) são estimativas baseadas em múltiplas fontes que frequentemente divergem. As razões para divergência incluem:

  • Definições variáveis de quem conta como "refugiado ucraniano"
  • Alemães étnicos da Ucrânia vs. ucranianos étnicos
  • Registros incompletos ou destruídos
  • Dupla contagem ou subcontagem em diferentes administrações

Mortalidade: Estimativas de mortos durante a jornada (20-30%) são extrapolações baseadas em:

  • Testemunhos de sobreviventes
  • Comparação entre números iniciais e chegadas registradas
  • Taxas de mortalidade em condições similares documentadas

Repatriação Forçada: Números variam significativamente entre fontes britânicas, americanas e russas. Utilizei estimativas conservadoras de Tolstoy e Elliott, mas números reais podem ser maiores.

Holodomor: Estimativas variam de 3 a 7 milhões. Conquista apresenta números mais altos; arquivos soviéticos posteriores sugerem números no meio dessa faixa. Usei a faixa completa para refletir incerteza legítima.

Fontes Primárias Indiretas

Muitos "testemunhos" citados na aula são compostos baseados em múltiplos relatos reais de características similares, por motivos pedagógicos. Os nomes específicos (Olena, Werner, James Smith) são pseudônimos representativos, mas os eventos descritos são documentados em:

  • Ukrainian Oral History Project (Harvard)
  • British veteran testimonies in Tolstoy (1977)
  • UNRRA worker reports in Wyman (1998)

Sobre "Janelas Fechadas"

O simbolismo das "janelas fechadas" aparece em:

  • Testemunhos dispersos em coleções orais
  • Relatos literários de refugiados (memórias publicadas posteriormente)
  • Descrições de historiadores sobre recepção hostil

Não é um evento único documentado mas um padrão recorrente em múltiplas localidades, usado aqui como símbolo pedagógico de uma atitude amplamente documentada de rejeição e desumanização.


Obras Complementares para Aprofundamento

ARENDT, Hannah. The Origins of Totalitarianism. New York: Harcourt, 1951.

  • Contexto filosófico sobre refugiados e apátridas

MARRUS, Michael R. The Unwanted: European Refugees from the First World War Through the Cold War. Philadelphia: Temple University Press, 2002.

  • História mais ampla dos refugiados europeus

PRUSIN, Alexander V. The Lands Between: Conflict in the East European Borderlands, 1870-1992. Oxford: Oxford University Press, 2010.

  • Contexto geopolítico de longo prazo

WEINER, Amir. Making Sense of War: The Second World War and the Fate of the Bolshevik Revolution. Princeton: Princeton University Press, 2001.

  • Perspectiva soviética sobre reintegração de territórios

Esta bibliografia representa as fontes principais utilizadas para construir a narrativa histórica apresentada na aula. Para verificação de dados específicos ou aprofundamento em temas particulares, consultar as obras relevantes listadas.