Venezuela e J&F
"Boa noite, senhoras e senhores.
Quando me convidaram para falar sobre o nexo entre
geopolítica e negócios na América Latina, eu sugeri discutirmos a exportação de
doce de leite uruguaio. É um tema estável, previsível e absolutamente
delicioso. Mas me pediram algo com mais... substância. Então, cá estamos
nós para falar da Venezuela. Ou, mais precisamente, do mais novo e ousado
espetáculo de realismo capitalista sendo ensaiado em nosso conturbado
continente.
O título da nossa palestra de hoje poderia ser: 'Como
Ganhar Bilhões, Acalmar Superpotências e Vender Frango ao Mesmo Tempo: Um
Estudo de Caso sobre a J&F na Venezuela'.
(Uma pausa, um sorriso irônico.)
Para os acadêmicos de negócios aqui presentes, por
favor, esqueçam por um instante os seus modelos de SWOT e as Cinco Forças de
Porter (1). Eles são ótimos para analisar o mercado de iogurtes. O que estamos
testemunhando aqui é algo mais primitivo. É a arte da sobrevivência e da
dominação em seu estado mais puro. É Maquiavel encontrando a Faria Lima em uma
mesa de bar em Caracas.
Para os militares, senhores, o que verão é a aplicação dos princípios da guerra em um campo de batalha inteiramente novo. É Clausewitz com uma mesa de M&A (Fusões e Aquisições). Um exercício de negação de área, projeção de poder e conquista de 'território' sem disparar um único tiro. O território, no caso, são poços de petróleo. O inimigo não é um exército, mas algo muito mais perigoso: a incompetência (2).
Vamos ao nosso estudo de caso. Temos uma nação, a
Venezuela, abençoada com mais petróleo do que a Arábia Saudita e amaldiçoada
com uma gestão que faria um cassino falir. O resultado é o que chamo de 'Paradoxo
da Riqueza Tóxica': um ativo tão valioso que se tornou radioativo,
impossível de tocar.
O dono do estabelecimento, o Sr. Maduro, precisa
desesperadamente de dinheiro. Seus atuais financiadores — um dragão chinês
pragmático e um urso russo distraído com problemas em seu próprio quintal —
estão fartos de jogar dinheiro bom em um poço de má gestão. Eles são credores,
não milagreiros.
E, do outro lado da rua, temos o xerife do bairro,
Tio Sam, que não gosta da gerência e nem dos frequentadores do local. Ele impôs
um bloqueio, que na prática funciona como uma placa de 'Interditado pela
Vigilância Sanitária', mas que só serviu para piorar o vazamento de gás na
cozinha.
Entra em cena nosso protagonista: um conglomerado
brasileiro, a J&F. Uma empresa que, sejamos honestos, tem um doutorado honoris
causa em resiliência e navegação em águas turbulentas. Eles aprenderam, da
maneira mais difícil, que o maior risco não é a crise, mas sim não saber como
lucrar com ela.
Eles olham para a Venezuela e não veem um Estado
falido. Eles veem a maior oportunidade de 'turnaround' da história corporativa.
O plano é de uma genialidade cínica.
Primeiro, a 'Operação Cavalo de Troia Alimentar'. A JBS, seu braço de alimentos,
oferece frango e carne. É humanitário. É diplomático. Ninguém pode ser contra
alimentar pessoas. É a manobra de aproximação perfeita. Você não chega em um
território hostil com tanques; você chega com caminhões de comida. É mais
barato e abre as mesmas portas.
Segundo, o 'Pivô do Mal Menor'. Uma vez lá dentro, a proposta é
apresentada não como uma tomada de controle, mas como uma solução de gestão.
- Para
Maduro:
'Deixe-nos consertar sua fábrica. Você fica com uma fatia do lucro, que é
infinitamente maior que 100% de nada. Você sobrevive. Nós lucramos.
Simples assim.'
- Para
os chineses e russos: 'Vocês querem seu dinheiro de volta? Nós
somos a única garantia de que essa fábrica vai produzir o suficiente para
pagar suas dívidas. Somos o seu 'plano de recuperação de crédito'. Nos
deixem trabalhar, e o dinheiro de vocês volta a pingar na conta.'
- E
aqui vem o toque de mestre, a proposta para um governo Trump: 'Você quer uma vitória para
mostrar ao seu eleitor? Quer baixar o preço da gasolina? Quer dizer que
diminuiu a influência chinesa? Nós lhe damos tudo isso. Colocaremos uma
bandeira 'ocidental' na operação, aumentaremos a produção de petróleo, e
você nem precisa sujar as mãos. É uma privatização da sua política
externa. Um outsourcing de resultados geopolíticos.'
(Ele para e toma um gole d'água.)
'Mas e a corrupção? A anarquia?', vocês perguntam.
Ah, meus caros... amadores tentam combater a corrupção. Profissionais a
precificam.
A estratégia não é distribuir envelopes pardos em
becos escuros. Isso é para principiantes. A estratégia é criar 'Ecossistemas
de Dependência Controlada'. Você não dá propina para um general. Você
constrói um hospital para a tropa dele, gerenciado pelo seu fundo social. Você
não suborna um burocrata. Você financia a modernização do departamento dele,
tornando-o o herói da repartição, um herói que depende de você. Você transforma
a anarquia de um pântano em um sistema de irrigação onde todos os canais
deságuam no seu moinho.
E, para garantir que o jogo seja jogado segundo as suas regras, a decisiva cláusula de eleição de foro: qualquer disputa será resolvida em Paris, não em Caracas. Porque a civilização, senhores, no fim das contas, é a capacidade
de escolher seus próprios juízes.
O que estamos observando, portanto, não é apenas um
negócio. É a proposta de um novo tipo de soberania na era da globalização. Uma
soberania corporativa, que opera em 'enclaves' de eficiência dentro de Estados
disfuncionais. Uma entidade que responde a acionistas, mas que projeta poder
como uma nação.
Será que vai dar certo? Não sei. É uma aposta de
dezenas de bilhões de dólares no fio da navalha. Mas, se der, os livros de
história militar e de administração terão que ser reescritos. E talvez, apenas
talvez, o futuro das relações internacionais não seja definido por embaixadores
em Genebra, mas por frigoríficos em Anápolis que decidiram que o mundo é
pequeno demais para seus balanços financeiros.
Obrigado."
Redação IA Gemini 2.5 Pro - Responsável Ingo Dietrich Söhngen
Imagem criada pela IA DALL·E 3 Standard
Bibliografia: Fonte primária: Portinari, Natália. "Joesley levou recado de Trump a Maduro sobre possível acordo com EUA." UOL. 6 de dezembro de 2025. [https://noticias.uol.com.br/colunas/natalia-portinari/2025/12/06/joesley-levou-recado-de-trump-a-maduro-sobre-possivel-acordo-com-eua.htm].
J&F Investimentos In https://pt.wikipedia.org/wiki/J%26F_Investimentos
Collinson, S. (2025, 7 de dezembro). Análise: Trump enfrenta dilema da Venezuela enquanto Maduro se mantém firme. CNN Brasil. [https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/analise-trump-enfrenta-dilema-da-venezuela-enquanto-maduro-se-mantem-firme/]
1. Ferramentas de Análise e Planejamento
1.1 Análise SWOT - Avalia uma empresa olhando para:
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Interno |
Externo |
|
✅ Forças - O que fazemos bem |
🌟 Oportunidades - Chances no
mercado |
|
❌ Fraquezas - Onde falhamos |
⚠️ Ameaças - Riscos externos |
1.2 Cinco Forças de Porter - Analisa o quão difícil é competir num setor:
- Concorrentes atuais → Quão intensa é a
briga?
- Novos entrantes → É fácil entrar no
mercado?
- Poder dos fornecedores → Eles ditam as
regras?
- Poder dos clientes → Eles pressionam
preços?
- Substitutos → Existem alternativas
ao produto?
1.3 (Não citado no texto) PERT-CPM e Evoluções - O que são? Técnicas para planejar projetos, identificando tarefas, prazos e o que não pode atrasar.
PERT vs CPM
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PERT |
CPM |
|
Prazos
incertos (usa 3 estimativas) |
Prazos
conhecidos |
|
Foco
em tempo |
Foco
em tempo + custo |
Conceito-chave: O Caminho Crítico é
a sequência mais longa de tarefas → define a duração mínima do projeto.
Evoluções
|
Método |
O que
acrescenta |
|
GERT |
Permite
caminhos alternativos e loops |
|
VERT |
Analisa
riscos e incertezas |
|
CCM
(Corrente Crítica) |
Considera
recursos limitados e adiciona "buffers" de segurança |
|
Softwares
modernos (MS
Project, Primavera) |
Automatizam
tudo + gráficos de Gantt |
Parte 1: O Tabuleiro Geopolítico (As Estratégias Militares)
Para entender a Venezuela, primeiro precisamos conhecer as regras do jogo moderno, que é jogado na "zona cinzenta", evitando a guerra declarada. As duas estratégias principais são:
-
Negação de Área (A2/AD): É a estratégia de "blindar" um território. O objetivo não é necessariamente ocupar, mas tornar a entrada de um inimigo (como os EUA) extremamente cara e arriscada. Isso se faz com a presença militar de aliados (Rússia, Irã), instalação de mísseis, radares e a criação de "escudos humanos" estratégicos (técnicos estrangeiros em bases locais). A Rússia e o Irã fizeram isso na Venezuela, elevando o custo de qualquer intervenção americana.
-
Projeção de Poder: É a estratégia de expandir sua influência para além de suas fronteiras. Em vez de tanques, usam-se ferramentas econômicas e políticas. A China e a Rússia projetaram seu poder na Venezuela através da "Diplomacia da Dívida" (empréstimos bilionários em troca de petróleo e lealdade) e do escudo diplomático (vetos na ONU), garantindo que o regime de Maduro se tornasse um ativo estratégico seu.
Em resumo, a Venezuela se tornou um "território" disputado onde potências externas aplicam essas estratégias para conquistar influência e negar o acesso ao adversário, tudo sem disparar um tiro.
Parte 2: A Realidade Atual (Os Interesses Internacionais em Conflito)
O resultado dessas estratégias foi um impasse complexo em dezembro de 2025:
- O Regime de Maduro: Sobrevive, mas é totalmente dependente do apoio financeiro, militar e diplomático da Rússia, China e Irã. Tornou-se um "protetorado" de facto.
- Os Estados Unidos: Sua política de "pressão máxima" (sanções) falhou em derrubar o regime. A opção militar foi neutralizada pela estratégia de Negação de Área dos adversários. Os EUA se encontram frustrados, sem uma solução clara.
- Rússia e China: Alcançaram seu objetivo: instalaram-se na "vizinhança" dos EUA, garantiram acesso a recursos e desafiaram a hegemonia americana. No entanto, agora possuem um ativo instável e economicamente falido que precisa de suporte constante.
- O Brasil: É o ator mais impactado diretamente. Interesses econômicos gigantescos (como os da JBS/J&F) estão em risco. Além disso, enfrenta uma crise humanitária e de segurança em sua fronteira. Um colapso total da Venezuela seria um desastre para o Brasil, mas um confronto direto dos EUA com o país vizinho também.
Esse impasse gera um "ponto de exaustão": todos os lados estão perdendo de alguma forma. A pressão para derrubar Maduro não funcionou, e o custo para sustentá-lo é cada vez maior. A situação está madura para uma solução não convencional.
Parte 3: A Diplomacia Outsider (A Missão da J&F)
É neste cenário de impasse que surge a figura do diplomata outsider, uma solução pragmática para um problema que a diplomacia tradicional não conseguiu resolver.
O Conceito: Quando os canais oficiais estão bloqueados pela desconfiança e pela retórica pública, um ator não-estatal, com credibilidade e interesses em ambos os lados, pode operar nos bastidores para construir pontes.
A J&F como Diplomata Secreto:
-
Procuração Não-Oficial de Washington: Os EUA, percebendo o fracasso de sua abordagem, precisam de uma saída que não pareça uma derrota. Eles não podem negociar diretamente com Maduro sem se desmoralizar. Assim, dão uma "procuração" informal (um sinal verde, uma autorização tácita) para que um ator privado, como a J&F, explore uma solução. A J&F tem a vantagem de ser uma gigante multinacional, entende a linguagem dos negócios e não carrega o peso de uma bandeira nacional.
-
O Beneplácito do Itamaraty: O governo brasileiro tem todos os motivos para apoiar essa missão. Resolve um problema gigantesco em sua fronteira, protege seus interesses econômicos e o faz sem se expor a um confronto diplomático direto com os EUA ou com o eixo Rússia/China. O Itamaraty oferece a cobertura, a inteligência diplomática e a legitimidade de um Estado, mas permite que a J&F, como entidade privada, tenha a flexibilidade e a agilidade para negociar o que um Estado não pode.
- A Missão em Si:
A J&F não chega em Caracas falando de "democracia" ou "direitos humanos". Ela chega falando a única linguagem que todos na mesa entendem: interesses.
- Para o regime de Maduro: Para o regime de Maduro, a proposta da J&F é a única rota de fuga de um beco sem saída. Com o país economicamente destruído e a dependência de seus protetores se tornando um fardo crescente, a oferta não é apenas uma "saída de ouro", mas um mecanismo de sobrevivência. A negociação troca o poder político, que já é insustentável, por aquilo que se tornou mais valioso: garantias de segurança pessoal contra extradição, uma anistia que lhes permita evitar tribunais internacionais e, crucialmente, um caminho para legitimar ou proteger a vasta fortuna acumulada. É a conversão pragmática de um poder político em colapso em segurança e riqueza pessoal permanentes.
- Para China e Rússia: Para China e Rússia, a J&F oferece pragmatismo onde antes havia apenas risco ideológico e financeiro. Sustentar o regime de Maduro tornou-se um investimento de alto custo e retorno incerto. A proposta transforma seus "ativos tóxicos" em contratos viáveis. A J&F não pede que abandonem seu aliado, mas que troquem um parceiro falido por um acordo garantido. A negociação assegura que seus contratos de dívida por petróleo não se tornem pó com a queda do regime, oferecendo um "seguro" de mercado contra a perda total. Para a China, protege seu investimento. Para a Rússia, permite manter a influência econômica na região, mesmo perdendo o peão político, trocando um ganho geopolítico barulhento por um benefício econômico silencioso e duradouro.Oferece uma "saída de ouro". Uma transição negociada, garantias de segurança pessoal (anistia, exílio seguro) e, crucialmente, a proteção de parte da fortuna acumulada.
- Para os EUA: Para os EUA, a negociação permite desarmar um "posto avançado" rival em seu hemisfério, trocando a humilhação de uma política de sanções estagnada por uma vitória de bastidores, sem os riscos de uma guerra ou o reconhecimento público de que sua estratégia original falhou.
Conclusão Final: A incursão da J&F representa a evolução final da "guerra por outros meios". Quando a diplomacia formal falha e a guerra é muito arriscada, o capitalismo pragmático entra em cena como a ferramenta geopolítica definitiva, operando nas sombras para redesenhar o mapa de poder onde os Estados não conseguiram.