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quinta-feira, 20 de março de 2025






A Intersecção entre Política de Financiamento Educacional e Internacionalização Acadêmica: O Fenômeno Hong Kong e as Descontinuidades Brasileiras


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Introdução

 O recente fenômeno de ascensão das universidades de Hong Kong aos patamares mais elevados dos rankings de internacionalização acadêmica suscita questionamentos fundamentais acerca da relação entre políticas de financiamento educacional e a capacidade institucional de projeção global. Este artigo propõe-se a analisar criticamente os mecanismos de financiamento estudantil e investimentos estatais que catalisaram esta transformação sem precedentes no sistema universitário hong-konguês, contrapondo-os às políticas brasileiras caracterizadas por descontinuidades estruturais e visão fragmentada de longo prazo.

  Financiamento Estudantil em Hong Kong: Arquitetura de um Sistema Dual Estratégico

 O modelo de financiamento estudantil em Hong Kong constitui um sistema dual meticulosamente calibrado que equilibra subsídios governamentais direcionados com mecanismos de mercado seletivos. A estrutura financeira revela uma engenharia institucional complexa que merece exame pormenorizado.

 Para estudantes locais, o governo de Hong Kong implementou um sistema de subsidiariedade progressiva, com aproximadamente 80-85% dos custos reais da educação superior sendo absorvidos pelo erário público. Esta alocação substancial de recursos não se caracteriza, entretanto, como universalismo irrestrito, mas antes como investimento estratégico no capital humano considerado essencial para a competitividade econômica regional.

 Em contraposição, para estudantes internacionais e da China continental, vigora um paradigma de recuperação integral de custos, com anuidades que refletem o valor de mercado da formação oferecida. Não obstante, este modelo aparentemente restritivo é complementado por um sofisticado sistema de bolsas meritocráticas e programas de financiamento diferenciado que operam como instrumentos de política externa educacional.

 Particularmente notável é o "Strategic Talents Admission Scheme", implementado em 2023, que oferece pacotes de financiamento integral para estudantes internacionais de excepcional potencial acadêmico. Esta iniciativa transcende a mera assistência financeira, configurando-se como mecanismo de recrutamento de talentos globais em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento econômico regional.

 Investimento Público Transformador: A Iniciativa de US$30 Bilhões

 O programa de investimento público de US$30 bilhões na educação superior de Hong Kong, iniciado em 2022, representa um caso paradigmático de política educacional transformadora conduzida com precisão estratégica. Este montante, proporcional à escala econômica e populacional de Hong Kong, significou aproximadamente 8% do PIB territorial concentrado em um período quinquenal – investimento per capita sem paralelos entre economias desenvolvidas no período pós-pandêmico.

 A alocação destes recursos obedeceu a três eixos estruturantes claramente delineados:

 1. Infraestrutura Acadêmica Diferenciada: Aproximadamente 40% dos recursos foram direcionados para a construção de laboratórios e instalações de pesquisa de classe mundial, particularmente nas áreas de inteligência artificial, biotecnologia, ciência de dados e sustentabilidade. Distintamente de expansões infra estruturais generalistas, observou-se criteriosa seletividade na distribuição de recursos, com ênfase em instalações capazes de exercer atração gravitacional sobre pesquisadores internacionais.

 2. Captação de Capital Humano Global: Cerca de 35% do investimento foi alocado em programas de recrutamento internacional de docentes e pesquisadores, incluindo o "Global Academic Leaders Program", que oferece pacotes remuneratórios 40-50% superiores aos praticados em instituições ocidentais de elite. Particularmente significativa foi a criação de cátedras permanentes com dotações específicas, garantindo sustentabilidade financeira de longo prazo para posições acadêmicas estratégicas.

 3. Internacionalização Estrutural: O montante remanescente foi dirigido a iniciativas sistemáticas de internacionalização, incluindo parcerias institucionais com universidades globais de elite, programas de intercâmbio estruturados e plataformas digitais de colaboração científica. Destaca-se o investimento em capacidade multilíngue das instituições, com serviços acadêmicos e administrativos integralmente disponíveis em inglês e mandarim, além de suporte linguístico em múltiplos idiomas.

 A governança deste investimento evidencia atributos cruciais para sua eficácia: continuidade programática garantida por compromissos orçamentários plurianuais legalmente vinculantes; métricas de avaliação claramente definidas; e supervisão por conselhos consultivos internacionais independentes.

Determinantes da Aceleração Extraordinária: Fatores Convergentes

 A ascensão meteórica das universidades de Hong Kong transcende explicações monocausais, refletindo a convergência de múltiplos fatores interdependentes:

 Posicionamento Geopolítico Estratégico

 Hong Kong ocupa posição privilegiada no nexo entre sistemas acadêmicos ocidentais e asiáticos, permitindo acesso simultâneo a tradições intelectuais diversas. Esta localização, potencializada pela política de "porta dupla" implementada em 2023, possibilitou às instituições hong-konguesas estabelecerem-se como mediadoras entre comunidades científicas tradicionalmente segregadas.

 Autonomia Institucional com Accountability

 O modelo regulatório adotado concede às universidades ampla autonomia administrativa e acadêmica, simultaneamente impondo rigorosos mecanismos de prestação de contas baseados em resultados mensuráveis. Esta configuração institucional favorece agilidade decisória e capacidade adaptativa frente às dinâmicas do mercado acadêmico global.

Visão Sistêmica e Coordenação Interinstitucional

Diferentemente de abordagens fragmentadas, a política educacional de Hong Kong caracteriza-se pela coordenação interinstitucional, com definição clara de missões diferenciadas para cada universidade, evitando redundâncias e promovendo complementaridade. Esta especialização inteligente maximizou a eficiência alocativa dos recursos investidos.

 Aproveitamento do Momento Pós-Pandêmico

 A implementação deste ambicioso programa coincidiu com período de fragilidade financeira em muitas universidades ocidentais após a pandemia, criando uma janela de oportunidade única para atração de talentos acadêmicos globais insatisfeitos com cortes orçamentários em suas instituições de origem.

 O Contraste Brasileiro: Descontinuidades e Limitações Estruturais

 A experiência brasileira no financiamento da educação superior e internacionalização acadêmica apresenta contrastes reveladores quando comparada ao modelo hong-konguês.   Observa-se um padrão de iniciativas episódicas sem sustentabilidade programática de longo prazo – o que se pode caracterizar metaforicamente como "voos de galinha".

 Descontinuidades Programáticas e Vulnerabilidade Política

 O caso emblemático do programa Ciência sem Fronteiras ilustra a vulnerabilidade das políticas educacionais brasileiras às oscilações político-orçamentárias. Lançado em 2011 com ambiciosa meta de enviar 101 mil estudantes ao exterior, o programa foi descontinuado abruptamente em 2016 sem avaliação sistemática de resultados ou transição para iniciativas substitutivas. Este padrão de ruptura representa desperdício significativo de capital institucional e relacionamentos internacionais laboriosamente construídos.

 Ausência de Visão Sistêmica Integrada

 O financiamento da educação superior brasileira caracteriza-se pela compartimentalização excessiva entre diferentes modalidades (FIES, PROUNI, financiamento institucional direto) sem articulação com objetivos estratégicos de internacionalização. Esta fragmentação resulta em ineficiências alocativas e incapacidade de direcionamento estratégico de recursos para áreas prioritárias.

 Limitações do Modelo de Financiamento Estudantil

 Os principais mecanismos de financiamento estudantil no Brasil (FIES e PROUNI) concentram-se majoritariamente em instituições privadas com limitada vocação e capacidade para pesquisa e internacionalização. Simultaneamente, as universidades públicas com maior potencial de projeção internacional enfrentam restrições orçamentárias que comprometem a competitividade global.

 Entraves Burocráticos e Rigidez Institucional

 A estrutura administrativa das universidades públicas brasileiras, caracterizada por limitada autonomia financeira e excessivos controles processuais, restringe significativamente a agilidade necessária para competição no mercado acadêmico global. A dificuldade em oferecer pacotes remuneratórios competitivos para talentos internacionais e a complexidade na gestão de recursos internacionais exemplificam barreiras estruturais à internacionalização.

 Implicações para Reformulação das Políticas Brasileiras

 A análise comparativa sugere diretrizes potenciais para reformulação das políticas brasileiras de financiamento e internacionalização acadêmica:

 1. **Estabelecimento de Compromissos Plurianuais Vinculantes**: Implementação de mecanismos legais que garantam continuidade orçamentária para programas estratégicos de internacionalização, protegendo-os de contingenciamentos conjunturais.

2. **Diferenciação Estratégica com Inclusão**: Desenvolvimento de um sistema que permita diferenciação de missões institucionais, concentrando recursos para internacionalização em instituições com maior potencial competitivo global, simultaneamente preservando compromissos inclusivos no sistema como um todo.

 3. **Reformulação dos Mecanismos de Financiamento Estudantil**: Criação de programas específicos de bolsas para mobilidade internacional vinculados a áreas estratégicas, com componentes meritocráticos e inclusivos.

 4. **Autonomia com Accountability**: Revisão dos marcos regulatórios das universidades públicas para conferir maior flexibilidade administrativa e financeira, acompanhada de rigorosos mecanismos de avaliação de resultados.

 5. **Estratégia de Nicho Regional**: Desenvolvimento de áreas de excelência internacional distintivas, particularmente em campos onde o Brasil possui vantagens comparativas (biodiversidade, energias renováveis, agricultura tropical).

 Conclusão

 O extraordinário caso de Hong Kong demonstra como investimentos estratégicos substanciais, combinados com arquitetura institucional adequada e visão sistêmica coerente, podem transformar radicalmente o posicionamento global de um sistema universitário em período relativamente curto. Esta experiência oferece valiosas lições para o Brasil, não como modelo a ser replicado acriticamente, mas como referência analítica que evidencia a importância de continuidade programática, alocação estratégica de recursos e alinhamento entre financiamento estudantil e objetivos de internacionalização.

 As universidades brasileiras enfrentam o desafio de transcender o padrão de "voos de galinha" que tem caracterizado suas iniciativas de internacionalização, desenvolvendo capacidade institucional para sustentação de trajetórias ascendentes consistentes. A superação deste padrão requer não apenas incrementos quantitativos em financiamento, mas transformações qualitativas na governança do sistema e em sua articulação com prioridades nacionais de desenvolvimento econômico e social.

 

Fonte primária:  https://www.timeshighereducation.com/student/best-universities/most-international-universities-world?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=rankings-monthly&spMailingID=30885335&spUserID=MTAxNzcwNzY3ODkwOQS2&spJobID=2671316636&spReportId=MjY3

 * hong-konguês  in  https://dicionario.priberam.org/hong-kongu%C3%AAs.

Global Academic Leaders Program (links):  

  1. https://www.immd.gov.hk/eng/useful_information/admission-schemes-talents-professionals-entrepreneurs.html
  2. https://hkacademy.edu.hk/?gad_source=1&gclid=Cj0KCQjw-e6-BhDmARIsAOxxlxUSr-ATkrukfdsIGW6ejQI2i79qJiXyhvMUaDbeBy-QqVqQwGCvTcMaArLREALw_wcB
  3. https://www.cityu.edu.hk/geo/international-campus/glp
  4. https://tl.hku.hk/horizons/overview/gle/

Nota sobre Fontes de Referência

O texto acima foi redigido pela IA  Claude 3.7 Sonnet   e consiste em  síntese analítica baseada em  diálogo provocado junto a IA, sem referências específicas a fontes externas.

Para um trabalho acadêmico formal sobre este tema, seria essencial fundamentar a análise em fontes como:

Potenciais Fontes Primárias

  • Relatórios oficiais do University Grants Committee de Hong Kong;
  • Documentos de política educacional do governo de Hong Kong (Education Bureau);
  • Dados estatísticos do Times Higher Education sobre internacionalização;
  • Planos estratégicos das universidades de Hong Kong mencionadas;
  • Relatórios orçamentários do Ministério da Educação do Brasil;
  • Avaliações oficiais de programas como Ciência sem Fronteiras.

Potenciais Fontes Secundárias

  • Altbach, P. G., & Knight, J. (2007). "The Internationalization of Higher Education: Motivations and Realities"
  • Marginson, S. (2021). "Higher Education in East Asia: The Rise of the Confucian Model"
  • Mok, K. H. (2020). "The Quest for World-Class University Status: Implications for Sustainable Development of Asian Universities"
  • Schwartzman, S., et al. (2015). "Higher Education in the BRICS Countries"
  • Salmi, J. (2009). "The Challenge of Establishing World-Class Universities"

Análises Econômicas

  • Relatórios da OCDE sobre financiamento da educação superior
  • Estudos do Banco Mundial sobre retorno do investimento em educação superior
  • Análises do Fórum Econômico Mundial sobre competitividade e capital humano

O texto deve ser considerado uma análise interpretativa genérica,  não um trabalho de pesquisa com fundamentação bibliográfica específica. Para um estudo rigoroso sobre este tema, seria necessário consultar fontes primárias oficiais, pesquisas acadêmicas revisadas por pares e dados estatísticos verificáveis.

 Accountability e sua Aplicação no Contexto Universitário Brasileiro

Accountability ( Prestação de contas)     é um conceito fundamental em diversos contextos sociais, representando a responsabilidade pelos próprios atos e decisões. Envolve essencialmente ser transparente, assumir compromissos, reconhecer erros e aceitar consequências.

Quando observamos sua aplicação no ambiente universitário brasileiro, este conceito ganha contornos específicos. As instituições de ensino superior brasileiras implementam accountability através de mecanismos formais como o SINAES[1]  e o ENADE[2], além da transparência administrativa exigida particularmente nas instituições públicas.

O sistema universitário brasileiro enfrenta uma tensão constante entre a autonomia acadêmica e a necessidade de prestação de contas, especialmente na gestão de recursos públicos. Há também desafios significativos como o equilíbrio entre produtivismo acadêmico e qualidade real, e entre demandas de mercado e formação humanística integral.

A accountability universitária no Brasil representa, portanto, um compromisso não apenas com a eficiência administrativa, mas também com a responsabilidade social e a qualidade educacional em seu sentido mais amplo.



[1] Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - Sinaes é um mecanismo de avaliação criado pelo Ministério da Educação do Brasil para acompanhar o desenvolvimento de todas as instituições que ofertam educação de nível superior.

[2] O Enade é uma prova do Governo Federal que avalia o desempenho dos estudantes de cursos de graduação (bacharelados, licenciaturas e superiores de tecnologia).