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terça-feira, 12 de agosto de 2025

 "O Paradoxo dos Novos Vassalos: Uma Reflexão sobre Soberania e Contradições Ideológicas. Ou em outras palavras: 'O comunista é você, estúpido'."



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Há algo profundamente perturbador e sociologicamente fascinante no comportamento de certos setores políticos brasileiros contemporâneos. Enquanto erguem bandeiras contra o que chamam de "socialismo" e "comunismo", estes mesmos grupos facilitam, com entusiasmo quase patológico, a entrega de nossa soberania nacional às megacorporações americanas. É como se, em nome da defesa da liberdade, escolhessem deliberadamente uma nova forma de colonização - mais sutil, talvez, mas não menos real.

Esta contradição não é apenas política; é um fenômeno sociológico que revela camadas profundas de nossa formação cultural e das ansiedades de nossas elites. Quando observamos políticos que se apresentam como defensores ardorosos da propriedade privada enquanto entregam de bandeja os dados de duzentos e vinte milhões de brasileiros para empresas estrangeiras, ou que proclamam seu patriotismo enquanto terceirizam nossa infraestrutura digital mais crítica, estamos diante de algo que transcende a simples hipocrisia política.

Yanis Varoufakis, o economista grego que ousou enfrentar os credores europeus, provavelmente classificaria esses políticos como vassalos entusiastas do que ele denomina "tecno-feudalismo". Eles temem tanto o fantasma de um socialismo doméstico que preferem se submeter a um feudalismo digital estrangeiro, onde nos tornamos todos servos nas plantações de dados do Vale do Silício. A ironia é cruel: em nome de evitar que o Estado brasileiro tenha algum controle sobre nossas vidas, entregam esse controle a estados corporativos estrangeiros infinitamente mais poderosos e menos accountáveis democraticamente.

Shoshana Zuboff, a pesquisadora de Harvard que cunhou o termo "capitalismo de vigilância", enxergaria nesses políticos os colaboracionistas perfeitos desse novo sistema de exploração. Enquanto gritam contra uma "ditadura comunista" que existe apenas em suas fantasias paranoicas, facilitam ativamente uma ditadura de dados que é real, presente e crescente a cada dia. Sob suas administrações complacentes, cidadãos brasileiros são transformados em matéria-prima comportamental, suas decisões sobre crédito, emprego e até relacionamentos são delegadas a algoritmos estrangeiros, e nossa soberania cognitiva nacional é terceirizada para corporações californianas que não devem satisfação a ninguém, exceto a seus acionistas bilionários.

O mais fascinante neste teatro do absurdo é como esses mesmos políticos conseguem manter suas performances patrióticas. Fazem questão de ostentar bandeiras brasileiras, entoar hinos e performar amor à pátria, enquanto simultaneamente entregam setores estratégicos inteiros para estrangeiros. Não se trata apenas de privatização - processo que, bem feito, pode ter seus méritos - mas de uma entrega consciente e sistemática de nossa autonomia tecnológica, econômica e até cultural.

Quando analisamos friamente o que está sendo entregue, a dimensão da contradição fica ainda mais evidente. Estamos falando dos dados pessoais de nossa população inteira, dos padrões comportamentais que definem nosso mercado consumidor, da infraestrutura de comunicação que conecta nossos cidadãos, dos sistemas de pagamento que movimentam nossa economia, da logística que distribui nossos produtos. Se um governo de esquerda nacionalizasse uma única empresa mineral, seria imediatamente denunciado como "confisco" e "autoritarismo". Mas entregar todo nosso sistema nervoso digital para corporações americanas? Isso é chamado de "modernização" e "entrada no primeiro mundo".

Esta mentalidade revela algo profundo sobre certas camadas de nossas elites: uma síndrome colonial que nunca foi completamente superada. Há uma preferência psicológica e cultural por ser mordomo de estrangeiro rico a ser cidadão de país soberano. Preferem ser gerentes locais da Google a construtores de tecnologia brasileira, distribuidores regionais da Amazon a criadores de comércio eletrônico nacional. É mais confortável administrar a colonização digital do que enfrentar o desafio de construir alternativas próprias.

O anticomunismo obsessivo que caracteriza esse grupo funciona como uma cortina de fumaça ideológica quase perfeita. Ao criar um pânico moral constante sobre um "socialismo" que existe mais em suas mentes que na realidade, conseguem transformar qualquer resistência à entrega de soberania em "comunismo". A população, atemorizada pela propaganda, aceita a colonização digital como o menor dos males. E eles se apresentam como heróis que nos "salvaram" de um destino terrível - enquanto nos entregam a um destino que pode ser ainda pior.

A ironia histórica suprema é que os mesmos que acusam a esquerda brasileira de "entreguismo" estão literalmente entregando o país - só que para corporações privadas em vez de Estados socialistas. Pelo menos os Estados socialistas eram, bem, Estados. Tinham territórios, cidadãos, alguma forma de responsabilidade democrática, mesmo que imperfeita. As corporações americanas para as quais estão entregando nossa soberania não têm nenhuma dessas características. São entidades puramente extrativas, projetadas para maximizar lucros para acionistas que vivem em outro hemisfério.

Quando comparamos concretamente o que fizeram os governos "socialistas" que tanto criticam com o que fazem os governos "liberais" que tanto celebram, a contradição fica ainda mais gritante. Os supostos "comunistas", criaram campeões nacionais, investiram pesadamente em tecnologia nacional, mantiveram controle sobre setores estratégicos e negociaram de igual para igual com potências mundiais. Os "liberais" atuais vendem nossos campeões nacionais para estrangeiros, entregam setores tecnológicos inteiros para a BigTech americana, terceirizam nossa infraestrutura mais crítica e agem como administradores locais de interesses estrangeiros.

A pergunta que não quer calar é: quem é mais nacionalista nessa equação? Quem efetivamente defende os interesses brasileiros? Quem constrói soberania e quem a destrói?

Se esses políticos fossem genuinamente liberais, estariam quebrando os monopólios digitais americanos em território brasileiro, criando competição real, regulando duramente a extração de dados e investindo massivamente na formação de alternativas nacionais. Se fossem genuinamente patriotas, estariam protegendo nossos dados em território nacional, desenvolvendo tecnologia brasileira competitiva, negociando de igual para igual com as BigTechs e formando alianças estratégicas com outros países em desenvolvimento. Se fossem genuinamente conservadores, estariam conservando nossa soberania nacional, preservando nossas tradições culturais contra a homogeneização digital e protegendo nossas famílias contra a exploração algorítmica.

Mas não fazem nada disso. Porque, no fundo, não têm medo do socialismo. Têm medo de perder relevância num mundo onde o poder real passou das elites nacionais para as elites globais. Sua estratégia é simples: se não podem vencer, juntam-se aos vencedores, mesmo que isso signifique trair o próprio país. São uma versão high-tech dos antigos compradores coloniais que facilitavam a exploração estrangeira em troca de migalhas - com a diferença crucial de que os compradores coloniais do século XIX ao menos admitiam abertamente que trabalhavam para estrangeiros.

Os atuais se fantasiam de patriotas enquanto entregam a soberania nacional em bandeja de prata. E o fazem gratuitamente, sem nem ao menos serem bem remunerados pela traição. É quase admirável, de uma forma perversa, essa capacidade de auto-engano.

Quando nossos netos perguntarem por que o Brasil se tornou uma fazenda de dados americana, por que nossa juventude teve que emigrar para trabalhar como programadores para empresas estrangeiras em vez de construir tecnologia nacional, por que nossa cultura foi homogeneizada pelos algoritmos californiano, a resposta será simples e melancólica: porque seus avós tinham tanto medo de um fantasma chamado "comunismo" que entregaram o país real para corporações estrangeiras reais.

A escolha ainda é nossa, mas a janela de oportunidade se fecha a cada dia. Podemos escolher entre soberania digital real ou vassalagem corporativa disfarçada de modernização. Entre construir alternativas próprias ou administrar eficientemente nossa própria colonização. Entre ser protagonistas de nossa história ou coadjuvantes na história de outros.

Mas, pelo amor de tudo que é sagrado, paremos de chamar vassalagem de patriotismo. Paremos de chamar colonização de liberdade. Paremos de fingir que entregar nossa soberania para corporações estrangeiras é diferente de entregá-la para Estados estrangeiros - na verdade, é pior, porque pelo menos Estados têm cidadãos, territórios e alguma responsabilidade democrática.

A verdade é dura, mas é a única base sólida sobre a qual podemos construir um futuro digno: somos governados por vassalos digitais que se fantasiam de patriotas, e enquanto não reconhecermos isso claramente, continuaremos entregando pedaços de nossa soberania em nome de fantasmas ideológicos que existem mais em nossas mentes que na realidade.

IA redatora Claude Sonnet 4 Think


""O Paradoxo dos Novos Vassalos: Uma Reflexão sobre Soberania e Contradições Ideológicas. Ou em outras palavras: 'O comunista é você, estúpido'."  por Ingo Dietrich Söhngen © 2025.

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Disponível em: https://sohngen.blogspot.com/2025/08/o-paradoxo-dos-novos-vassalos-uma.html

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