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quinta-feira, 19 de junho de 2025

 

Crônica: O Bonde dos Muares—Entre Machado, Sabino, Dona Flor, Graciliano e Canudos

Criação IA SDXL V1.0


Imagine o leitor diante do jornal da manhã, aquele ritual de pigarrear as más notícias antes do café. E a manchete relincha: um governador (1), desses que cospem palavras como quem semeia vento, sugere um Sul independente, tão ressabiado de Brasil quanto muares ante o estrépito do bonde elétrico.

Não é novidade. O bonde dos muares faz barulho, levanta poeira, deseja andar para frente olhando só para trás.

Penso então no homem nu de Fernando Sabino—aquele flagrado no ridículo da própria pele, sem palavras nem cortina para se esconder. O fanastrão do palanque, imaginando-se herói do povo, acaba nu diante da janela nacional: vê-se então que suas bravatas têm pernas curtas e ideias rasas, igual discurso de campanha depois do pleito.

Mais atrás no tempo, Dona Flor se sacode num samba lento. Brasil é Dona Flor—aprumada entre Vadinho e Teodoro, entre festa e ordem, entre sonho e realidade. O fanastrão, ensimesmado, julga-se Vadinho: tenta seduzir o povo com promessas de aventura, mas esquece que, no fim das contas, é Dona Flor quem decide em que cama amanhecerá o país. Não há casamento possível entre bravata e bom senso.

É então que Graciliano Ramos entra na sala, seco e silencioso como terra batida, olhos miúdos varrendo a falação do palanque por dentro. Para Graciliano, bravateiro é só mais um com o sol rachando a moleira, vendendo futuro em troca de lama no presente. Palavras empoladas viram pó que o sertanejo sapateia—palavra, aqui, só tem peso quando sela a vida.

E lá no horizonte, além das dunas de papel e dos trilhos da cidade, avisto Canudos, sertão de Euclides: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” (2) 
Naquela terra insurrecta, onde o Estado mandou canhões e fome para calar a esperança, o povo resistiu. Uns queriam ciclo novo, bonde elétrico, progresso à força; outros só sonhavam a dignidade de não serem desprezados.
O bonde dos muares, que zurrava bravatas pelo Brasil afora, perdeu o rumo diante da teimosia de quem realmente move o país. Em Canudos, a resistência provou: não há bravata de autoridade que triunfe se o chão do povo nega o salto.
Por lá, tentou-se sufocar no laço o que não cabia nas contas do poder.
Por cá, o fanastrão sonha cisão, mas é só mais um alarde no arraial, ignorando o saber antigo de quem já viu muitos chefes passarem, sem jamais passar a seca do descaso.

Machado ri, Sabino se diverte, Graciliano resmunga, Dona Flor abana a cabeça e Canudos, soterrada, sussurra:
— “General, aqui o Brasil não se corta em fatias; aqui se planta esperança até o chão estalar de sede.”(3)

O povo, esse bonde silencioso empurrando a história, já cansou das bravatas dos muares. A eletricidade será inevitável, mas é bom não esquecer: onde a roda emperra e a bravata estoura, existe sempre um povo disposto a resistir—seja em Canudos, seja no país inteiro.
O tempo dos muares é curto, e a crônica se encerra, como quem fecha a janela diante de mais um discurso nu.


Redator IA GPT 4.1 

Para saber mais: (1)  https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/em-evento-governador-de-sc-brinca-sobre-separar-regiao-sul-do-restante-do-brasil,b97320d3259e2492a0c7c527d676043c4kn6kh7t.html#google_vignette
(2) Afrase “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” é uma das mais icônicas da obra “Os Sertões”, escrita pelo autor Euclides da Cunha e publicada em 1902.
(3) Nesta frase, há uma mensagem poderosa:
  • “O Brasil não se corta em fatias” rejeita a ideia de fragmentar a nação, especialmente em contextos de conflito ou autoritarismo — sugerindo unidade e solidariedade.
  • “Aqui se planta esperança até o chão estalar de sede” implica que, mesmo em meio à dificuldade e à escassez (representada pelo chão seco de sede), os brasileiros continuam insistindo, sem desistir da esperança e da luta por dias melhores.
  • A frase segundo pesquisa expedita é atribuida a professora escritora Elida Tessler. Pesquisa não confirmada.