Mas como eu devo me apressar?
O
ano era 1979. Viajar de avião ainda carregava um certo glamour. A jornada
começou no Brasil, sob o logotipo da estrela da Varig.
O destino final era Zurique na Suíça. O
imponente 707 da Varig – já ultrapassado em sua vida útil, com sua pintura
clássica, já anunciava o primeiro problema do dia no painel de voos, com aquele
som característico de letras e números virando: "ATRASADO". A espera
no saguão, com passageiros lendo jornais e revistas, parecia interminável.
Finalmente a
bordo, após o longo voo transatlântico, Rio-Madrid-Zurique - o 707 pousou em Zurique, na Suíça. O ar frio dos
Alpes era um choque depois do calor brasileiro. A pressa era palpável. Um grupo
de passageiros, corria pelos corredores do aeroporto para pegar o voo de
conexão da Lufthansa para
Munique.
Mas o
destino, naquele dia, tinha um senso de humor irônico. O Boeing 727 da
Lufthansa, estava ali, parado na pista.
A razão? Aguardava justamente os passageiros atrasados do voo da Varig. A
correria tinha sido em vão; o efeito dominó das viagens aéreas significava que
eles agora estavam presos a um segundo atraso.
Já acomodados
nos assentos de tecido tão típicos da década, a tripulação da
Lufthansa começou a servir café logo após o início do voo. Foi nesse momento que uma senhora idosa, de
cabelos brancos e postura impecável, externou sua preocupação com um olhar
cansado para a aeromoça, que vestia um elegante tailleur, com
casaco e saia, em tom azul marinho.
A aeromoça,
com um sorriso treinado e a eficiência alemã em seu DNA, ofereceu uma resposta
padrão, claramente tirada do manual:
— Ach,
beeilen Sie sich nicht. Sie kommen noch rechtzeitig hin. (Ah, não se apresse. A senhora
chegará a tempo.)
Um silêncio
pesado pairou no ar. A frase, pensada para ser tranquilizadora, soou
completamente absurda para alguém que já estava sentado, com o cinto afivelado,
em um avião em voo.
A senhora
então virou-se lentamente para sua companheira de viagem ao lado e, em um tom
de voz que misturava resignação e uma lógica cortante, perguntou:
— Ja,
wie soll ich mich denn beeilen? (Sim, mas como eu deveria me apressar?)
A pergunta
flutuou pela cabine, um resumo perfeito da impotência e do absurdo da situação.
Naquele momento, dentro de um Boeing 727 em 1979, a sabedoria de uma passageira
expôs, com uma simplicidade brilhante, o vazio de uma resposta automática.
Correção e desenvolvimento Gemini 2.5 Pro Think.