Racismo Cultural e Estrutural
"Wenn du
die Menschen so nimmst, wie sie sind, dann machst du sie schlechter; wenn du
sie behandelst, als wären sie, was sie sein sollten, so hilfst du ihnen, das zu
werden, was sie sein können."
“Se você toma
as pessoas como elas são, você as torna piores; se você as trata como se elas
fossem o que deveriam ser, você as ajuda a se tornarem o que podem ser."
"Se
prendi le persone così come sono, le rendi peggiori; se le tratti come se
fossero ciò che dovrebbero essere, le aiuti a diventare ciò che possono
essere."
"Si
tomas a las personas tal como son, las empeoras; si las tratas como si fueran
lo que deberían ser, las ayudas a convertirse en lo que pueden ser."
"If you take people as they are, you make them worse;
if you treat them as if they were what they should be, you help them become
what they can be."
Esta frase é
uma adaptação de um trecho do romance "Wilhelm Meisters Lehrjahre"
(Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister), de Johann Wolfgang von Goethe.
Racismo Cultural e Estrutural e Separatismo
Pois bem, meu amigo. Puxemos a cadeira para mais perto do fogo, que a noite vai ser longa e a prosa é funda.
Para entender a alma deste
nosso Continente, não basta olhar a planície, é preciso escavar o chão. E neste
chão, a frase daquele velho alemão, Goethe, não é só uma reflexão, é uma chave
que abre portas que muitos prefeririam manter trancadas.
Comecemos pelo princípio. Não o princípio do navio que trouxe o nonno e a oma, mas um princípio mais antigo, sussurrado pelo vento minuano entre as folhas da araucária.
Antes de tudo, havia um sonho aqui. Um sonho que
tinha o nome de Missões. Os padres de batina preta, os jesuítas, olharam para o
povo Guarani e puseram em prática, talvez sem saber, a máxima do poeta.
Eles não tomaram o índio "como ele era" aos olhos do mundo – um selvagem a ser escravizado. Não. Eles o trataram "como ele deveria ser": uma alma capaz de Deus, um artista capaz de criar beleza, um cidadão capaz de erguer uma civilização. E ao tratá-lo assim, ajudaram-no a se tornar o que ele podia ser: o arquiteto e morador de uma utopia. Ergueram-se catedrais de pedra e som no coração da selva. A flauta do Guarani encontrou o violino barroco.
Criou-se uma sociedade comunitária, um império de música e fé
que era um espanto para o mundo.
Mas a história é uma madrasta cruel. O mundo dos impérios e
da cobiça não suportou tal visão. E quando os exércitos de Portugal e Espanha
vieram para destruir o sonho, eles voltaram a "tomar o índio como ele
era" em suas mentes tacanhas: um obstáculo, um animal a ser dispersado. A
utopia ruiu em sangue e fogo, e o Guarani, que havia vislumbrado o céu, foi
lançado ao inferno da perseguição, tornando-se um fantasma em sua própria
terra.
É sobre o cemitério deste sonho que o nosso imigrante europeu vai fincar a estaca de sua nova vida.
Ele chega a um chão já amansado por
outras mãos, assombrado por outra história. E aqui, ele começa a aplicar a
frase de Goethe a si mesmo, de forma perigosa.
Ele "se toma como ele é": o herói desbravador. O homem que fez o deserto florescer. Ele olha para o seu passado de trabalho duro, para a sua cultura de ordem e progresso, e se vê como o ponto final e justificado da história desta terra.
E ao fazer isso, como diz o poeta, ele "se torna pior". Ele se torna menor.
Torna-se um homem que vive orgulhoso no seu casarão, mas que tem pavor de abrir a porta do porão, onde os fantasmas da terra – o Guarani massacrado, o negro que sangrou nas charqueadas – ainda sussurram suas verdades.
Ele se condena a um orgulho frágil, que
precisa constantemente se reafirmar rebaixando tudo o que não se parece com o
retrato na parede.
E é nesse orgulho frágil que o separatismo encontra terreno fértil.
A ideia de que o Sul deve se fechar em si mesmo, erguer muros invisíveis contra o resto do Brasil, é a expressão máxima desse medo de encarar a própria história em sua complexidade.
O separatismo, com sua promessa de
pureza e exclusividade, não é senão uma fuga covarde da responsabilidade de ser
inteiro, de ser plural, de ser verdadeiramente dono deste chão.
Mas então, o que fazer? A resposta está na segunda metade da
frase. A cura para o Sul e para os seus filhos de pele clara não é apontar o
dedo para os outros, nem fechar-se em muros imaginários, mas tratar a si mesmo
"como deveria ser".
E o que o branco, o descendente de europeu, deveria ser hoje?
Ele deveria ser, antes de tudo, um herdeiro corajoso. Um
homem com a hombridade de não só clamar a herança do trabalho, mas de
reconhecer a herança da dívida. Um homem que olha para as ruínas de São Miguel
e não vê um ponto turístico, mas a cicatriz de uma civilização que o precedeu.
Um homem que entende que o chimarrão que ele bebe tem a sabedoria do Guarani, e
que o seu poder não vem apenas do arado alemão, mas da resiliência misturada
desta terra.
Tratá-lo "como ele deveria ser" é esperar que ele seja o primeiro a exigir que os livros contem a história inteira. Que ele lute para que a sua cultura não seja um muro, mas uma mesa farta onde todos os filhos deste chão possam se sentar.
Que ele compreenda que ser
"gaúcho", "catarinense" ou "paranaense" não é ser
uma cópia pálida de uma Europa imaginada, mas ser o resultado complexo,
doloroso e glorioso de todos esses encontros.
Ao fazer isso, ele não perde a sua identidade. Ele a completa. Ele deixa de ser o herdeiro de uma fazenda para se tornar o cidadão de um Continente.
Ele finalmente abre a porta do porão, não por medo, mas por
respeito, e convida os fantasmas para a sala de estar, para contar suas histórias.
E só então, ao se tornar um homem que abraça a sua história inteira, com todas
as suas luzes e todas as suas sombras, ele finalmente se ajuda a se tornar tudo
o que pode ser: um homem inteiro, finalmente digno do tamanho deste chão.
Redator Gemini 2.5 Pro Tink com supervisão da Perplexity.AI